A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Eleições: dúvida cruel!

(Maurilio Tadeu de Campos)

No segundo semestre deste ano o que mais pude ver pela TV, no chamado "horário eleitoral gratuito", foi uma sucessão de situações pitorescas, engraçadas, infelizes, bizarras, mentirosas, enganadoras, ao lado de outros instantes até verdadeiros. Os "marqueteiros" esbanjaram criatividade, "vendendo" seus candidatos como produtos, prontinhos para o consumo: políticos ditosos, sempre sorridentes, amistosos, alguns até bastante humildes e bem ensaiados para representar seus papéis diante das câmeras. Eu prestei atenção a muita coisa e, confesso, fiquei quase nada convencido. Entendi que, com o passar dos anos, o povo brasileiro não tem levado a sério as eleições diretas como um direito que ficou um tempo suspenso e que foi tão difícil de reconquistar. E os "produtos" oferecidos me pareceram muito caros diante do meu voto. Vi passarem pela telinha uma infinidade de candidatos a cargos políticos: profissionais liberais, funcionários públicos, operários, artistas das diversas modalidades da arte (de variados talentos) e até alguns que buscavam o seu "lugar ao sol", todos eles querendo o aval dos eleitores para representá-los "seriamente" no congresso, nas assembléias estaduais e na direção dos estados e do país. Mas, na verdade, nem todos passaram uma imagem assim tão séria, nem se preocuparam em nos transmitir a confiança necessária para que, votando neles, estejamos satisfeitos ao optar por pessoas que julgamos preparadas para, efetivamente, exercer a função que a eles delegamos através do voto.

Passado o primeiro turno, fiquei surpreso com alguns eleitos, quase nada preparados, mas que receberam votação extraordinária (erroneamente denominada "voto de protesto"). Fiquei imaginando, então, que a brincadeira generalizada poderá ter repercussão no Congresso Nacional e nas assembléias legislativas, uma vez que aqueles que conduziram suas campanhas a partir de gracejos, ironias e outros comportamentos nada condizentes com o que se espera de legítimos representantes do povo, poderão repetir as mesmas atitudes manifestadas na campanha quando estiverem empossados nos seus cargos.

Na campanha para o segundo turno presenciamos atos vinculados a denúncias, a mais calúnias, a ofensas, como se nós quiséssemos, apenas, saber quem está falando a verdade ou mentindo. Ansioso para que a propaganda eleitoral mostrasse postulantes a cargos eletivos interessados em revelar, na íntegra, as suas propostas de governo e não apenas menciona-las nos intervalos entre as mútuas acusações, fiquei preocupado com o baixo nível da campanha, repleta de agressões de lado a lado, inoportunas e, para nós, desinteressantes. A rigor, porém, pude vislumbrar candidatos a presidente da república de excelente nível, mas esperava deles um pouco mais de dignidade, de ética, de compromisso com o povo brasileiro. Apesar de a mídia ter executando um trabalho esteticamente bem feito, o conteúdo das propagandas eleitorais deixou a desejar, com acusações demais e propostas de menos. Percebi que os dois mais votados chegaram ao segundo turno pelos seus méritos e entendi, também, que ambos possuem a preparação necessária para governar o país. Porém, eu gostaria de ter ficado mais informado a respeito das propostas de cada um, na íntegra, para poder optar por um deles com mais segurança. Para votar, no entanto, precisei me orientar pela minha intuição e pelo pouco que vi e ouvi como promessas de governo, uma vez que a propaganda em quase nada ajudou. Só espero que, no final dessa jornada, com a proclamação da presidente eleita, o vitorioso seja, de fato, o Brasil.

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