No segundo semestre deste ano o que mais pude ver pela TV, no chamado "horário
eleitoral gratuito", foi uma sucessão de situações
pitorescas, engraçadas, infelizes, bizarras, mentirosas, enganadoras,
ao lado de outros instantes até verdadeiros. Os "marqueteiros"
esbanjaram criatividade, "vendendo" seus candidatos como produtos,
prontinhos para o consumo: políticos ditosos, sempre sorridentes, amistosos,
alguns até bastante humildes e bem ensaiados para representar seus papéis
diante das câmeras. Eu prestei atenção a muita coisa e,
confesso, fiquei quase nada convencido. Entendi que, com o passar dos anos,
o povo brasileiro não tem levado a sério as eleições
diretas como um direito que ficou um tempo suspenso e que foi tão difícil
de reconquistar. E os "produtos" oferecidos me pareceram muito caros
diante do meu voto. Vi passarem pela telinha uma infinidade de candidatos a
cargos políticos: profissionais liberais, funcionários públicos,
operários, artistas das diversas modalidades da arte (de variados talentos)
e até alguns que buscavam o seu "lugar ao sol", todos eles
querendo o aval dos eleitores para representá-los "seriamente"
no congresso, nas assembléias estaduais e na direção dos
estados e do país. Mas, na verdade, nem todos passaram uma imagem assim
tão séria, nem se preocuparam em nos transmitir a confiança
necessária para que, votando neles, estejamos satisfeitos ao optar por
pessoas que julgamos preparadas para, efetivamente, exercer a função
que a eles delegamos através do voto.
Passado o primeiro turno, fiquei surpreso com alguns eleitos, quase nada preparados,
mas que receberam votação extraordinária (erroneamente
denominada "voto de protesto"). Fiquei imaginando, então, que
a brincadeira generalizada poderá ter repercussão no Congresso
Nacional e nas assembléias legislativas, uma vez que aqueles que conduziram
suas campanhas a partir de gracejos, ironias e outros comportamentos nada condizentes
com o que se espera de legítimos representantes do povo, poderão
repetir as mesmas atitudes manifestadas na campanha quando estiverem empossados
nos seus cargos.
Na campanha para o segundo turno presenciamos atos vinculados a denúncias,
a mais calúnias, a ofensas, como se nós quiséssemos, apenas,
saber quem está falando a verdade ou mentindo. Ansioso para que a propaganda
eleitoral mostrasse postulantes a cargos eletivos interessados em revelar, na
íntegra, as suas propostas de governo e não apenas menciona-las
nos intervalos entre as mútuas acusações, fiquei preocupado
com o baixo nível da campanha, repleta de agressões de lado a
lado, inoportunas e, para nós, desinteressantes. A rigor, porém,
pude vislumbrar candidatos a presidente da república de excelente nível,
mas esperava deles um pouco mais de dignidade, de ética, de compromisso
com o povo brasileiro. Apesar de a mídia ter executando um trabalho esteticamente
bem feito, o conteúdo das propagandas eleitorais deixou a desejar, com
acusações demais e propostas de menos. Percebi que os dois mais
votados chegaram ao segundo turno pelos seus méritos e entendi, também,
que ambos possuem a preparação necessária para governar
o país. Porém, eu gostaria de ter ficado mais informado a respeito
das propostas de cada um, na íntegra, para poder optar por um deles com
mais segurança. Para votar, no entanto, precisei me orientar pela minha
intuição e pelo pouco que vi e ouvi como promessas de governo,
uma vez que a propaganda em quase nada ajudou. Só espero que, no final
dessa jornada, com a proclamação da presidente eleita, o vitorioso
seja, de fato, o Brasil.