Saímos juntos para a viagem dos nossos sonhos, dispostos a aproveitar
ao máximo os dias de descanso e de lazer no continente europeu. No avião,
ficamos em lugares separados. Porém, ao desembarcar, procurei-a inutilmente.
Indaguei em vários lugares e ninguém soube me informar sobre o
seu paradeiro.
O tempo passava e eu ia ficando mais preocupado. Em cada hotel eu averiguava
se havia alguma notícia, mas nenhuma informação positiva
me era fornecida. Ela teria me abandonado? Estaria com outra pessoa? Teria tomado
outro rumo sem me avisar? A ausência dela diminuiu a minha satisfação,
o meu prazer. Cheguei a pensar em sequestro, mas nenhuma evidência sugeriria
tal hipótese. Fiz novos amigos nos lugares em que visitei e, com eles,
conheci os mais diversos pontos turísticos. Tudo parecia novidade e eu
carecia de distração para não pensar mais na minha companheira
de viagem que pensei ser inseparável, mas que desaparecera. Tudo o que
queria era estar com ela, usufruir da sua presença. Outras companhias
surgiram, mas nenhuma delas me atraia. Eram belas, muitas delas alegres, outras
mais sóbrias. Algumas até pareciam ser jovens demais para mim.
Porém, meu interesse era reencontrar a companheira sumida.
Em Paris, fiquei sabendo que ela estaria me aguardando em Londres, no hotel.
Fiquei feliz. Iria revê-la dois dias depois. Procurei aproveitar os passeios
e quando tomei o trem de Paris a Londres, parecia que os ponteiros do relógio
moviam-se mais devagar do que de costume. Finalmente, a chegada à capital
inglesa. Lá, o nosso receptivo nos conduziu até o hotel. Entrei
apressado e, sem demora, dirigi-me à recepção. Perguntei
por ela. Um dos recepcionistas, educadamente, pediu que eu aguardasse. Minutos
depois retornou, dizendo que ela não estava no hotel, sequer em Londres.
Comprometeu-se, no entanto, a apurar novas informações. A tristeza
novamente tomou conta de mim. Fui para o meu quarto e lá fiquei, deitado
na cama, no escuro, frustrado. Qual teria sido o seu paradeiro? Por que haviam
garantido que ela estava em Londres?
Na manhã seguinte fui informado que ela embarcara num vôo de retorno
ao Brasil, saindo de Madrid. Por mais que eu tentasse, não conseguia
compreender aquela separação.
Retornei ao Brasil. Quase um mês depois, bem cedinho, a campainha tocou.
Abri a porta e lá estava ela, na companhia de um jovem rapaz muito alinhado.
Teria ela que reaparecer depois de tanto tempo e, ainda por cima, acompanhada?
O rapaz apresentou-se como funcionário da empresa aérea na qual
havíamos viajado.
"Senhor", - disse ele - "tive a missão de trazer a sua
mala, extraviada durante a sua recente viagem à Europa. Em nome da nossa
companhia peço desculpas pelos eventuais transtornos."
Olhei-a com estranheza. Depois de mais de um mês ela me pareceu diferente,
quase uma estranha. Agradeci ao rapaz. Assinei uns papéis e levei minha
ex-companheira de viagem para dentro. Quem sabe poderemos, num futuro próximo,
fazer uma nova viagem e, então, nada irá nos separar.