Sento à sombra do salgueiro chorão, num jardim que já não
existe. Colho a pureza da paisagem que imagino. Registro a solidão no
caule da palavra, que brota no silêncio das minhas manhãs. Busco
na memória a emoção do nada. Nas ondas do lençol,
procuro o mar distante, o barco à vela singrando momentos felizes que
estão registrados no livro do passado.
Percorro em meu voo a infância dos meus filhos, num tempo em que eu era
o porto seguro de ambos. Carrego comigo as cores do horizonte, pois por trás
dele, meu pensamento os encontra e os abraça em abraços prolongados.
Os espelhos que vivem em mim refletem os olhos de meus cinco netos.MARAVILHOSOS!
Sacudo a ferrugem do passado e desato laços do presente. Pacientemente,
faço o catálogo dos sonhos pendentes e, surpresa, descubro: eles
ainda existem!
Os dias abrem suas portas e na geometria das manhãs, viajo em outro ângulo.
Percorro com o olhar os retratos na parede. Invento a alegria para não
chorar. Meus momentos usam vestidos de saudade e meu pensamento é feito
de tempo.
Chego à janela, contemplo a vida, a luz me afaga e abraça a minha
paz interior. Ela preenche os meus dias. Embora sozinha, jamais estarei só.