Não me dissipo em partículas porque me resta a poesia. Meus versos
abrem janelas para o céu, lançam-me em épicas trajetórias
e tornam meu cotidiano possível. Nos meus versos não me livro
da dor, continuo dando de cara com incertezas que conseguem sustentar minha
fragilidade. Elas me fazem encontrar esconderijos dentro de mim, onde esmiúço
cantos e recantos, onde me reconforto com sentimentos em reserva.
Tenho mais passado que futuro e o curioso é que a alma ainda é
menina. Não percebeu os volteios do tempo. Ah, meus versos! Eles me colocam
de ponta cabeça. Minhas páginas, mesmo cansadas, revelam sempre
significados imprevistos e saídas para qualquer beco.
Ainda me vejo visitando antigas descobertas, embora o coração
produza um barulho enferrujado. Morte e vida se revelam juntas. Parece que descobri
tudo e ao mesmo tempo nada. Assim mesmo...bem paradoxal. Ando sozinha mas meus
possessivos me seguem. Temo ser engolida por uma embalagem a vácuo e
calar-me para sempre.
Vivo um jogo que não conheço e há controvérsias
a respeito das regras. Nem sei dizer se o apito que ouvi é de impedimento.
O fato é que ainda busco palavras que façam soar a leveza que
há em mim. Quero compor versos que me façam flutuar.