Calendário velho na lixeira, um novinho sob o vidro da escrivaninha.
Ano dois mil e sete; dois mais sete, nove...noves fora um! Um ano único,
o melhor, o inesquecível, aquele de deixar saudades eternas. Será?
Chove lá fora, chuvinha miúda, idêntica a do último
dia do ano que findou.
Virão riquezas raras, de valor secreto, em sentimentos e afetos? Graça?
Paz? Maior encanto? Sonhos castos...sonhos brancos?
Quem dera, um mundo não mais vil, sem miseráveis, sem rotos, sem
pranto!
Não creio. O sol surgirá amanhã, do mesmo modo, anoitecerá
como sempre.
Até os sonhos serão os mesmos, sem acréscimos, sem criatividade,
mais humildes, tecidos no espaço claro de minhas tardes monótonas.
Os soluços e lágrimas secretas continuarão presos na mesma
trama.
O problema é que o ano é novo mas a vida é velha. Não
há florescência de desejos, não retornarão a mocidade
e a infância, muito menos os áureos tempos de mulher adulta, independente,
que via a vida com lentes cor-de rosa.
Nada mais tem o esplendor infinito de filhos correndo pelo jardim, de minha
filha colhendo uma flor e colocando-a em meus cabelos. Acho que continuo sofrendo
da síndrome do ninho vazio.
Mais um janeiro...fevereiro...março. Meu jardim reflorirá mas
as flores morrerão no pé. Os dias serão como águias
de asas possantes...e antes que eu me dê conta, esse ano será velho
e antiquado. Continuarei então, desejando feliz ano novo...mas o de dois
mil e oito.