A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Outoneterno

(Maria José Zanini Tauil)

Havia uma praça com árvores seculares, exuberantes raízes, sombra acolhedora. Naquelas copas, pássaros cantores formavam orquestra ao anoitecer. Hoje, ergue-se no mesmo lugar um condomínio de arranha-céus, verdadeiros monstros devoradores de cartões postais. Dos corredores minguados, entre os blocos de concreto, onde outrora a relva enverdecia, somente vislumbro uma magra nesga de sol. Preço cruel o do progresso!

Do baú das recordações, tento resgatar os cenários felizes do passado. Triste, constato: Eles não mais existem.

Para onde migraram as borboletas multicores? E os beija-flores? Onde está o gramado que me acolhia nas tardes de verão, nas alegre brincadeiras da juventude? Que fim levou a amendoeira em cujo tronco tentamos eternizar a data do nosso primeiro beijo, dentro de um coração flechado?

O ar está mais pesado, poluído, i - rres - pi - rá - vel! O céu nem é mais tão azul. Das flores que colhias e enfeitavas os meus cabelos, só a imagem para sempre fotografada na retina da alma. Quero de volta a natureza

dos dias de juventude. Quero de volta as tardes embaladas pela suave brisa, que dançava por entre as folhagens da nossa praça. O sol dava um raro brilho ao teu olhar e neles, eu conseguia ler o quanto me querias..

Foram-se as flores. Fostes embora também. Já não percebo a primavera. Não há indício dela daqui, da janela do apartamento. Os dias são eternos outonos, sem folhas ao vento ... sem amor no coração.

  • Publicado em: 28/04/2008
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