Havia uma praça com árvores seculares, exuberantes raízes,
sombra acolhedora. Naquelas copas, pássaros cantores formavam orquestra
ao anoitecer. Hoje, ergue-se no mesmo lugar um condomínio de arranha-céus,
verdadeiros monstros devoradores de cartões postais. Dos corredores minguados,
entre os blocos de concreto, onde outrora a relva enverdecia, somente vislumbro
uma magra nesga de sol. Preço cruel o do progresso!
Do baú das recordações, tento resgatar os cenários
felizes do passado. Triste, constato: Eles não mais existem.
Para onde migraram as borboletas multicores? E os beija-flores? Onde está
o gramado que me acolhia nas tardes de verão, nas alegre brincadeiras
da juventude? Que fim levou a amendoeira em cujo tronco tentamos eternizar a
data do nosso primeiro beijo, dentro de um coração flechado?
O ar está mais pesado, poluído, i - rres - pi - rá - vel!
O céu nem é mais tão azul. Das flores que colhias e enfeitavas
os meus cabelos, só a imagem para sempre fotografada na retina da alma.
Quero de volta a natureza
dos dias de juventude. Quero de volta as tardes embaladas pela suave brisa,
que dançava por entre as folhagens da nossa praça. O sol dava
um raro brilho ao teu olhar e neles, eu conseguia ler o quanto me querias..
Foram-se as flores. Fostes embora também. Já não percebo
a primavera. Não há indício dela daqui, da janela do apartamento.
Os dias são eternos outonos, sem folhas ao vento ... sem amor no coração.