Confesso a vocês que sou um anjo comodista. Meu passatempo preferido
é espreguiçar-me deitado nas nuvens, tirar floquinhos delas e
jogar nos meus irmãos.
Havia um certo rebuliço no céu...diziam que ia nascer o filho
do PAI. Que estranho, né?O filho do PAI ia nascer... não entendi
nada! Melhor não entender mesmo! I Se perguntar pode sobrar alguma coisa
para eu fazer! No céu, tudo é motivo de festa e
alegria.
Estava dormindo sobre a minha nuvem preferida quando um clarão despertou-me.
Que susto, meu Deus! Meu coração estava quase saltando pela boca.
Fiquei encolhidinho,
com muito medo. Seria o apocalipse? Mais calmo, fui percebendo que era uma estrela
gigante, nunca me vi tão iluminado! Ela ofuscava meus olhos e apontava
para uma determinada direção.
Os anjos voavam leves como pássaros, para lá e para cá.
O anjo Gabriel deu-me uma bronca pela roupa amarrotada e chamou-me para descer
levando a harpa, pois nasceu o filho do Pai. (???)
Descemos sobre um estábulo. Os meus irmãos se espalhavam pelas
imediações. Uns sobre árvores, outros no telheiro e outros
no chão. Os animais pareciam estátuas. Todos virados para o lugar
iluminado pela grande estrela.Estavam admirados e comportados.
Fui abrindo caminho para ver o que acontecia. Até hoje meu coração
se acelera ao lembrar. Foi o momento mais bonito de toda a minha eternidade.
Uma criança belíssima
estava sobre uma manjedoura amaciada com palha e coberta com um pano branco.
Era um menino; o mais lindo que já vi. Ele sorria com a boca e com os
olhos. Sentada ao lado, uma linda jovem, que acariciava a mãozinha do
bebê. De pé, um homem .Com uma das mãos ele acenava para
que os pastores que chegavam não tivessem receio e que se aproximassem
para ver o menino.Foi aí que descobri que aquela criança era um
ser único, o Filho de Deus, nascido na Terra para salvar a humanidade.
Não posso nem consigo explicar a emoção que aquele cenário
me proporcionou. Uma luminosidade diferente emanava daquele recanto. Aquelas
pessoas tinham luz própria,
eram a personificação da beleza, da ternura e do amor. Senti-me
tão envolvido que nem percebi que desciam rios de lágrimas pelo
meu rosto, mas era um choro emocionado,
feliz, pelo privilégio daquela contemplação. Eu tinha vontade
de cantar...cantar...meus irmãozinhos tiveram o mesmo pensamento, creio.Todos
choravam e riam.
Os humildes pastores ajoelhados adoravam o menino. O boi e o burro se aproximaram
mais para aquecê-lo, pois a noite apesar de linda, estava muito fria.
De nossas cordas vocais e de nossos instrumentos, foi brotando o mais belo hino
de louvor:
"GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS E PAZ NA TERRA AOS HOMENS POR ELE AMADOS"