Uma viagem do Rio a Dourados, em Mato Grosso do Sul. Dezoito horas de estrada.
Partimos às 5 da manhã.
Íamos para ver nascer nossa neta Gabriella. Agosto de 2004, eu, meu
marido e os pais do meu genro. O Rodrigo é militar e moraram três
anos por lá.
Foi uma viagem longa e cansativa. Tivemos que atravessar o estado de São
Paulo todo, rumo a oeste. Quando atravessamos uma ponte de 3 km sobre o rio
Paraná, já anoitecia.
As estradas de Mato Grosso do Sul estão em péssimo estado. Buracos,
escuridão e muito mato dos dois lados da via de duas mãos.
Eu ia no banco de trás, apreensiva com a tênue visibilidade. Reparei
do lado esquerdo da estrada uma cruz. Pensei logo: "Alguém morreu
ali... Senhor, que essa pessoa descanse em paz".
Passado mais um pouco, vi outra cruz. Novamente pedi por seu descanso eterno.
Mais outra cruz... mais outra... Eu ia rezando e pensando: "Virgem santa,
que estrada perigosa! Como as pessoas perdem a vida em acidentes por aqui!"
Depois de ter contado umas setenta cruzes e ter rezado por todas, chegamos
a um clarão. Era um posto da polícia rodoviária.
Demos uma parada. Comentei com os companheiros de viagem sobre as placas e
meus olhos pousaram sobre uma delas...
Era uma placa de sinalização para quem seguia pela estrada em
sentido contrário. Elas são pintadas de preto por trás
e erguidas por duas madeiras cruzadas. Na escuridão, à luz do
farol, eu só via a cruz... muitas cruzes.
Gozam da minha cara até hoje... Nunca rezei tento pelos mortos, Pior
que eram inexistentes!