Lembro-me bem da época de páscoa na minha infância. Na
sexta-feira da paixão, no rádio, só se ouvia músicas
clássicas, fúnebres...Na Rádio Nacional havia a VIDA DE CRISTO
em capítulos, que se estendiam pelo dia inteiro.
Hoje se fala de páscoa lembrando mais dos ovos para comprar, nos presentes
para dar. É o reinado do coelhinho, como é o do Papai Noel no natal.
E como vivenciar esse período de semana santa?
Será útil acompanhar com ternura e piedade, os vários episódios
da Paixão? Ou ir ao cinema e assistir ao tão polêmico filme
de Mel Gibson e derramar rios de lágrimas?. Talvez fosse excelente, mas
não suficiente..
Se quisermos condoer-nos com a Paixão de Jesus Cristo, meditemos sobre
o que Ele sofreu nas mãos dos judeus, mas sem esquecer o que ainda se faz
hoje para ferir o Divino Coração. Não só os judeus
estavam lá. Todos estávamos no Horto, como algozes, e assim seguimos
até o alto do Gólgota.
Ele, o Cristo, previu tudo que aconteceria depois. Previu os pecados de todos
os tempos e os de nossos dias . Sofreu antecipadamente por eles.
E nós? O que fazemos? Sofremos , solidários , aos sofrimentos
de Cristo, pelo menos na sexta-feira santa e isso já alivia nossas consciências?
Oramos pelos pecadores e pedimos por suas conversões?
Fazemos jejum? Onde argumentamos? Onde testemunhamos? Onde está a nossa
voz altiva e enérgica em defesa das verdades que tantos negam e injuriam?
Eu creio que ainda hoje, o coração de Cristo sangra por nossa
indiferença, duplamente censurável, porque é indiferença
com o nosso próximo e sobretudo indiferença com Deus.
Até mesmo pelo nosso instinto de sociabilidade, tendemos a aceitar opiniões,
com medo de parecermos "caretas"...e as opiniões dominantes,
geralmente, são anticristãs. Na verdade, contentamo-nos em negligenciar
e ir vivendo, aceitando tudo quanto o espírito do novo século nos
inculca.
Não expulsamos Cristo de nossa alma...Mas como tratamos o Divino Hóspede?
Será Ele o centro de nossa vida intelectual, moral e afetiva? É
Ele o Rei? Ou reservamos um pequenino espaço para Ele, o toleramos como
hóspede secundário e às vezes importuno?
Será que fazemos parte da falange incontável dos que passaram
a vida sem odiar, mas também sem amar? Que uso fazemos do dom da fé
que possuímos?
Páscoa é alegria e esperança. É a maior data cristã.
Cristo não ficou no fracasso da cruz. Ele nos trouxe uma nova aliança.
A Ressurreição é a abertura do caminho para a vida plena...definitiva...eterna.