A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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ANO NOVO

(Maria José Zanini Tauil)

Calor intenso, quarto fechado, ar condicionado ligado. Abro as cortinas, vidraças molhadas, chove lá fora...Primeiro dia do ano, cinza como chumbo. Na boca, o gosto de cabo de guarda-chuva.

Tomei vinho até às três da manhã. Acordei agora...onze horas. Uma ducha...lavo o corpo, lavo a alma. Tento ordenar a mente, o pensamento. Pareço embriagada, confusa...sinto tristeza...um enorme vazio, solidão...A angústia de começar de novo, sem nada diferente...

A espuma desce pelo corpo, sinuosamente, detém-se em curvas, em pêlos. Resolvo ficar submersa. Encho a banheira, ...sais...espuma...pétalas de rosa! Por que não? Eu mereço esse carinho...pelo menos das pétalas de rosa! Primeiro banho do ano...perfumado, colorido...

Fecho os olhos, o pensamento alado, nem sei onde está, voou como borboleta...O telefone toca...não importa...não atendo, não estou... Insistem.

Ouço um cd com poemas de Vinícius, declamados: " Louco amor meu, que quando toca, fere e quando fere vibra, mas prefere ferir a fenecer- e vive a esmo".

A campainha toca... ao telefone, insistem. Com as mãos tampo os ouvidos.
Não quero barulho algum...quero apenas, alguns momentos em companhia de mim mesma, pela primeira vez no ano...Mil perspectivas, alguns projetos...Uma excitação, que paradoxalmente se contrapõe com o desânimo...

Primeiro dia... Chove lá fora...Acho que chove também aqui, dentro de mim...

  • Publicado em: 01/01/2005
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