Vamos ter esperanças! Algum dia, a moda vai valorizar esse atributo chave
da feminilidade: a celulite, marca registrada das mulheres que preferem trabalhar,
estudar, navegar na internet, enquanto a linda e louca da Solange Frazão
se mata nos abdominais.
Ana conheceu o Luis pela internet. Ele, de Goiás, ela do Rio. Ele nunca
vira o mar, a não ser em filmes, novelas e revistas. Depois de alguns
meses de namoro virtual, surgiu uma chance de uma viagem a trabalho ao Rio.
Excelente oportunidade de se conhecerem.
Ana esperou-o no aeroporto. Ele correspondeu às suas expectativas: alto,
louro, bonito. Formavam um belo par. Encontraram-se em todas as noites daquela
semana. Era verão de fevereiro. Marcaram praia para o sábado.
O rapaz não via a hora de conhecer o mar de perto, entrar nele. Momento
aflitivo para Ana. Ela tinha muita vergonha de seu corpo. Era até jeitosinha,
mas as celulites proliferavam feito planta daninha por coxas e bumbum.
Escolheu discreto biquini, amarrou uma canga na cintura e passou no hotel para
pegar o namorado goiano.
Muito encabulada, forrou a canga na areia e sentou-se, rápida. Não
queria ser observada assim, à luz do sol. Luis sentou-se ao seu lado
e extasiado, olhava o mar, o horizonte, as pessoas.
Um grupo de moças passou por eles. O rapaz seguiu-as com os olhos, depois
comentou com a namorada: "Acho lindos esses buraquinhos que muitas mulheres
têm nas pernas! São muito femininos! Olhe aquela! Até no
bumbum!"
Ana sorriu. Não era deboche. Ele era incrivelmente sincero.
Convidou-o para cair na água...e foi desfilando à sua frente,
sem constrangimento algum.
Quem sabe, daqui a algum tempo, a maioria dos homens pensará como Luis?
Quem sabe, daqui a algum tempo, os cirurgiões plásticos serão
procurados não só para turbinar com silicone, mas para colocar
alguns mililitros de celulite, com o objetivo de dar mais charme ao andar?
Utopia? Que nada! Tudo é possível no mundo da moda!