A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

BRANCA DE NEVE MORENA DE PRAIA

(Maria José Zanini Tauil)

O príncipe que despertou Branca de Neve na floresta levou-a para morar na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A menina virou gatinha de praia. Pele com belo bronzeado, desfilava pela orla com lindos biquínis confeccionados pelos sete anões, que também vieram morar na cidade e ganharam do príncipe uma fábrica de biquínis BUMBUM DE SAQUAREMA. A madrasta malvada, que era rainha, perdeu cetro e coroa, o castelo foi invadido pelo MST. Por ser generosa, Branca de Neve acolheu-a na sua cobertura de 600 metros quadrados (vizinha do Romário).

Enquanto a madrasta fazia compras, cozinhava, limpava, a patroa tomava água de coco e deixava os rapazes loucos com seu rebolado faceiro e olhar lânguido sobre os óculos escuros. Claro que ela não era uma mulher volúvel. Só escondia a aliança amarrando-a na pontinha da canga para poder queimar o dedo todo.

Uma tarde, o príncipe chegou mais cedo e resolveu fazer uma surpresa. Foi buscá-la na praia. Branca Morena estava rodeada de sete rapazes altos, corpulentos. Um colocava os tamanquinhos em seus delicados pés, outro amarrava-lhe a canga, outro alisava sua mão, outro penteava seus cabelos, outro servia-lhe um gole de seu chopinho e a beijava só para secar sua boquinha, pois não havia guardanapo por ali.

O príncipe rompeu o cerco, lascou um beijo na mulher e agradeceu aos nobres rapazes por tanta gentileza com sua bela esposa. Como prêmio, convidou-os para encerrarem a tarde na piscina da cobertura.

A madrasta se esmerava em servir cervejas e petiscos para a rapaziada. Estava de olho num moreno de corpo atlético, mas este só tinha olhos para Branca. Para animar mais os convidados, o príncipe sugeriu que Branca dançasse para eles. Ela foi se arrumar. Voltou vestida de odalisca e se remexeu na dança do ventre, que aprendeu quando passou a lua de mel no Oriente médio, na casa do Sadam. A farra só acabou quando o pessoal dos prédios vizinhos começou a gritar desesperado por causa daquela barulhada.Já era mais de meia noite.

  • Publicado em: 10/08/2004
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente