A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

LEMBRANÇAS DE MEU PAI

(Maria José Zanini Tauil)

Se meu pai estivesse aqui, estaria com oitenta e nove anos. Morreu com sessenta e seis.

Certamente, estaria com o corpo encurvado, o rosto enrugado, os cabelos branquinhos, mas o olhar teria a mesma expressão de ternura, de carinho. Meu pai deixava que o amor transbordasse por seus olhos esverdeados. Sua ausência é um buraco vazio, que jamais será preenchido, seu semblante está tão nítido na minha mente, como se tivéssemos deixado de conviver ontem.

O dedo de Deus o tocou...meu pai adormeceu. Como pode alguém dizer que não crê em Deus? Eu testemunhei o seu sofrimento, pela doença consumido, o vi morrer. Logo depois, seu rosto foi se transformando. Se tornou límpido, tranqüilo, como se tivesse adormecido, feliz e aliviado. Sua alma deixou o corpo doente que a aprisionava. O Senhor o libertou.

Depois desse dia, quantas vezes, me vi contemplando o infinito! Sei que ele está com o Pai e um dia, nos encontraremos. Será lindo o nosso abraço. A morte não nos separou. Tenho a maior herança que ele podia ter deixado: a fé. Ele não morrerá enquanto estiver vivo nas minhas lembranças.

E como é bom lembrar do meu pai! Das suas brincadeiras, das músicas que fazia para mim, das histórias onde eu sempre era personagem principal. Como esquecer da mão trêmula que segurava a minha no dia do meu casamento, ou da lágrima que insistia em rolar, na minha formatura? Como esquecer o amigo que tive nos momentos de doença dos filhos, sempre ao meu lado, ajudando, orando, dando seu carinho de avô?

Não tem a menor importância o que meu pai foi, na sua passagem por aqui. Se foi grande para o mundo, ele há muito o esqueceu. As pessoas vão e a vida segue seu ritmo.

O que importa mesmo é a lembrança que tenho do grande amigo que Deus me deu o privilégio de ter ... e que perdi.

  • Publicado em: 06/08/2004
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente