A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

ADMINISTRANDO CRISES

(Maria José Zanini Tauil)

Quando fiz quarenta anos, tive a primeira crise da meia-idade. Aquela velha história do sufixo "enta". Já tive tantas crises! Essa foi apenas mais uma.

Estude, namorei, tive crises de adolescente mal-amada, casei, criei filhos. Outra crise foi vê-los saindo de casa, construindo suas próprias famílias. Senti-me solitária e abandonada.

Existem situações que são geradoras de crises: a descoberta do primeiro fio de cabelo branco, a visão desconcertante da primeira ruga, a necessidade de óculos para leitura...todas, graças a Deus, contornáveis.

Aos cinqüenta, uma sacudida da vida. Tornei-me narcisista, algo bem típico das crises de meia-idade. Minha "independência ou morte", repentina, deixou meus amigos felizes e ao mesmo tempo preocupados.

Aprendi que crises existirão sempre e é necessário aprender a conviver com elas. Se meu prazer de comer à mesa cercada de filhos reduziu-se ao prato descartável frente à tv, é preciso repensar essa nova situação. Por que não toalha de linho, louça fina, música suave de fundo para acompanhar uma refeição solitária? Não mereço, por acaso? Não posso ser ótima companhia para mim mesma?

Aprendi que qualquer coisa, se não afetar a minha respiração, não é emergência. Eu sou prioridade. As coisas devem ser resolvidas, uma de cada vez.

Aprendi, com a vida, a acionar o botão do autocontrole. Sou pós-graduada em administração de crises. Tiro-as de letra!...

  • Publicado em: 15/07/2004
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente