Quando fiz quarenta anos, tive a primeira crise da meia-idade. Aquela velha
história do sufixo "enta". Já tive tantas crises! Essa
foi apenas mais uma.
Estude, namorei, tive crises de adolescente mal-amada, casei, criei filhos.
Outra crise foi vê-los saindo de casa, construindo suas próprias
famílias. Senti-me solitária e abandonada.
Existem situações que são geradoras de crises: a descoberta
do primeiro fio de cabelo branco, a visão desconcertante da primeira
ruga, a necessidade de óculos para leitura...todas, graças a Deus,
contornáveis.
Aos cinqüenta, uma sacudida da vida. Tornei-me narcisista, algo bem típico
das crises de meia-idade. Minha "independência ou morte", repentina,
deixou meus amigos felizes e ao mesmo tempo preocupados.
Aprendi que crises existirão sempre e é necessário aprender
a conviver com elas. Se meu prazer de comer à mesa cercada de filhos
reduziu-se ao prato descartável frente à tv, é preciso
repensar essa nova situação. Por que não toalha de linho,
louça fina, música suave de fundo para acompanhar uma refeição
solitária? Não mereço, por acaso? Não posso ser
ótima companhia para mim mesma?
Aprendi que qualquer coisa, se não afetar a minha respiração,
não é emergência. Eu sou prioridade. As coisas devem ser
resolvidas, uma de cada vez.
Aprendi, com a vida, a acionar o botão do autocontrole. Sou pós-graduada
em administração de crises. Tiro-as de letra!...