Um vestido branco de renda, sapatos de saltos, que me deixavam com andar desengonçado.
E o penteado? Um volumoso "bolo- de -noiva", feito com o cabelo desfiado,
para servir de enchimento. Como é que pode! Pagava para ficar mais feia!
E lá ia eu, ostentando aquele "chapéu", como valioso
troféu, para a festa dos meus quinze anos, com meu rosto de menina e
meu corpo de mulher.
Na missa, a briga com a minha mãe. Recusei-me a receber a comunhão,
porque precisava colocar o véu, (naquele tempo era obrigatório!)
e eu não ousava. Ficaria ridículo sobre aquele Everest que eu
equilibrava na cabeça. Jamais esquecerei a ira de mamãe à
porta da igreja, na saída, e a promessa da vitrola escondida, como castigo.
Seria festa sem música!
À noite, tudo esquecido. Música tocando, discos de setenta e
oito rotações, ninguém dançando. Ensaiei alguns
passos de valsa com meu pai, só para tirar fotografias. Amigos do ginásio,
familiares, vizinhos, casa cheia, festa no quintal, com gambiarras iluminando
cada canto, para que não houvesse risco de algum casal se embrenhar por
trás do galinheiro, ou no canavial. Fotos de família sob a mangueira
frondosa.
O bolo de dois andares, com um arranjo no alto, de onde pendiam quinze fitas
de cetim e nas extremidades delas, sobre a mesa, enfeites de filó, com
velinhas. Cada amiga segurou a sua fita. Após o canto de parabéns,
as fitas foram puxadas e a que saiu com uma aliança de dentro do bolo,
seria a primeira do grupo a casar.(segundo a brincadeira)
A fita premiada foi da Marilena, a única do grupo que tinha um namorado
firme. Todos discutiam a coincidência do resultado, pois tudo indicava
que realmente, ela seria a primeira a casar.
Alguns meses depois, Marilena descobriu que o quase noivo a traía e
terminou o relacionamento. Com sérios problemas psíquicos, que
mereceram longos anos de tratamento, casou-se aos trinta anos. Foi a última
da turma a contrair matrimônio.