A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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QUANDO A ESMOLA É DEMAIS...

(Maria José Zanini Tauil)

A vida já meio na contramão, com tantas paradas, muito calor, fome, ou frio, falta de carinho, de atenção. Ela procurava e fugia, queria e evitava ter desilusões, mas sua busca era constante, por um instante de gozo, de paz e de amor.

Seu coração, de portas abertas, pronto para receber tudo o que a vida lhe negou, mas com receio de nova ferida. Sentia falta do roçar de mãos, de trocar carinhos, palavras doces ao pé do ouvido, ouriçando os sentidos, provocando emoção e tesão.

Os ventos sopravam fortes...quase a derrubavam ao chão.A areia batia em seu rosto, fechava os olhos, caminhava a esmo, como cega, sem saber como seria o próximo passo, se existiria um buraco à frente, se cairia ou seguiria na caminhada.

Nos lábios, o murmúrio de um lamento, um sussurro quase mudo, dos olhos cerrados, as lágrimas desciam como cascata, lavavam -lhe o rosto.

De repente, encontrou tudo que lhe fazia falta, em dose multiplicada. Quando a esmola é demais, o santo desconfia.

Mesmo temerosa, jogou-se de cabeça.
O mundo mudou? Está mais receptivo?
Ou foi ela quem mudou?

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