A vida já meio na contramão, com tantas paradas, muito calor,
fome, ou frio, falta de carinho, de atenção. Ela procurava e fugia,
queria e evitava ter desilusões, mas sua busca era constante, por um
instante de gozo, de paz e de amor.
Seu coração, de portas abertas, pronto para receber tudo o que
a vida lhe negou, mas com receio de nova ferida. Sentia falta do roçar
de mãos, de trocar carinhos, palavras doces ao pé do ouvido, ouriçando
os sentidos, provocando emoção e tesão.
Os ventos sopravam fortes...quase a derrubavam ao chão.A areia batia
em seu rosto, fechava os olhos, caminhava a esmo, como cega, sem saber como
seria o próximo passo, se existiria um buraco à frente, se cairia
ou seguiria na caminhada.
Nos lábios, o murmúrio de um lamento, um sussurro quase mudo,
dos olhos cerrados, as lágrimas desciam como cascata, lavavam -lhe o
rosto.
De repente, encontrou tudo que lhe fazia falta, em dose multiplicada. Quando
a esmola é demais, o santo desconfia.
Mesmo temerosa, jogou-se de cabeça.
O mundo mudou? Está mais receptivo?
Ou foi ela quem mudou?