São seis horas da manhã...Perdi o sono. Uma nostalgia me invade.
Ponho um robe sobre a camisola, os chinelos, que me esperam, fiéis, sempre
à cabeceira.
Os cabelos estão embolados, olho-me no espelho e me assusto. Tenho olheiras
profundas. Pego o sabonete e com ele, faço bastante espuma. Espalho-a
e formo uma máscara branca, que me cobre até o pescoço.
Volto a olhar-me no espelho. Agora vejo um fantasma...ou minha alma?
Retiro com bastante água essa cobertura tipo chantily. Sinto a pele
mais liberta, mais fresca. Escovo os dentes, penteio os cabelos, prendo-os com
um elástico. Vou à sala, abro a porta. Caminho em direção
ao jornal jogado na grama.
Páro e observo meu jardim. As roseiras estão plenas de primavera,
e estamos no verão. Numa delas, conto quarenta botões. Detenho-me
frente a uma imensa rosa amarela, não totalmente aberta. Sobre uma das
pétalas, uma gota de orvalho, tão fora de época...Olho
as outras... Em nenhuma delas há qualquer sinal igual.
Não arranco a rosa. Gosto de vê-las se despetalarem e caírem
desfalecidas ao chão, perfumando-o, até morrerem totalmente.
Sento no banco do jardim e minha atenção continua na gota de
orvalho...Como, numa noite tão quente, ela pôde ter sido produzida?
Acho que do mesmo modo, tantas coisas surgem, de repente, em nossa vida, boas
ou más, significantes ou não... e não sabemos de onde vêm
ou para onde vão.
Uma gota de orvalho lembra uma lágrima. Estaria a rosa chorando? Estaria
solidária à minha melancolia?
Perguntarei a um amigo botânico, mas já tenho certeza que ele não
terá uma resposta para mim... como tantas perguntas minhas, nessa vida,
têm ficado sem resposta...