Interessante. O boi pisa no pasto verde e passa o pescoço pela cerca
para tentar comer o capim seco do outro lado. O ser humano também é
assim. O proibido tem gosto especial e é mais excitante.
Um amigo meu dizia que seria muito feliz quando pudesse ter um apartamento em
frente à praia, que viveria admirando a paisagem. Um dia, realizou o
sonho. Nos primeiros tempos, muito encanto, muitos convites para um chopinho
na varanda. Hoje as janelas vivem fechadas e ele passa semanas sem contemplar
a paisagem que dali se descortina. Deixou de ser novidade. Já havia fotografado
aquele cenário na retina.
Assim acontece com os casamentos. A rotina do dia-a-dia faz com que casais que
outrora se amaram tanto, virem parentes. A relação fica morna
e sem graça. A atração acaba.
Segundo Jorge Linhares, pastor e escritor, o casamento é uma viagem a
dois, mas muitas dessas viagens têm sido interrompidas ou um dos viajantes
desce na primeira parada.
Quantas viagens poderiam ser lindas, cheias de prazer e acabam sendo experiências
terríveis porque ignoramos as placas de advertência na estrada
da vida.
Precisamos olhar para a frente e deixar de remoer o passado, pois ele pode melhorar
o presente, mas também destruí-lo.
É preciso confiar no outro, mas também estar atento para que não
falte o combustível principal: o amor. Tudo na vida precisa de ajustes
com o tempo. O diálogo determina quais são os parafusos frouxos
no relacionamento.
O sexo é sempre uma armadilha. A grama do vizinho é mais verde.
Ninguém é forte e a carne é fraca.. Opostos que antes se
atraíam passam a se repelir. Não aceitamos as diferenças
e, no entanto, foram elas que levaram à atração inicial.
Há os que não acreditam em casamento perfeito. Eu creio.
Meus sogros, João e Arlette, fizeram sessenta anos de casados.. Em trinta
anos de convívio, jamais presenciei qualquer cena em que um falasse rispidamente
com o outro. Eles são metades que se completam, têm perfeitos encaixes
, que mesmo na velhice, com as limitações da idade são
como as rodas da bicicleta: só funcionam juntos.
Ele, aos noventa, é um homem forte e tem memória fraca. Ela, aos
oitenta e um, é frágil, tem dificuldades para caminhar e uma cabeça
prodigiosa, memória e perspicácia perfeitas. Ambos se apóiam
e caminham juntos como se fossem siameses. Ela é a cabeça e ele
o corpo. Isso é união. Caminhar juntos na mesma direção.