Pedro , sonhador, sofreu, chorou, trabalhou em fábrica e aos quarenta
e cinco anos, se formou em medicina. João, berço de ouro, melhores
colégios, fama, dinheiro, dono de fábrica, foi chefe de Pedro.
Pedro e João...mesma idade e destinos opostos. Um, médico dedicado
aos pobres, o outro, empresário avarento e desumano.
Um dia, João é salvo por Pedro, pelos procedimentos de socorro
imediato, em terrível acidente automobilístico. Quando e em que
circunstâncias João poderia se imaginar com a vida nas mãos
de Pedro? Logo ele, que trilhou o largo caminho das facilidades, encontrou tudo
pronto, aprendeu a explorar e maltratar os menos favorecidos. O caminho de Pedro
foi estreito, cheio de lutas e cruzes.
Quem segue o caminho de Pedro são mansos, humildes, fortes e sempre
perdoam. Em nenhum momento ele lembrou das humilhações sofridas
na fábrica de João, do deboche quando saía às seis
da tarde para um curso pré-vestibular...
Refeito o doente, com muchochos agradeceu, mas nem lembrou do pedido de perdão.
Ainda se sentia, naturalmente, em posição de superioridade.
Essa história me faz lembrar de um soneto de Gregório de Matos,
onde o pecador pede perdão a Deus por seus pecados e advogando em causa
própria, argumenta: se não existisse o pecado, como o Senhor exercitaria
o perdão? Ele estaria desempregado!
Se uma ovelha desgarrada, quando encontrada, glorifica o pastor, como está
escrito nas Sagradas Escrituras, Deus tem prejuízo de glórias
se não perdoar ao resgatar a ovelha perdida.
Na verdade, o pedido de perdão só tem valor, se for motivado
por real arrependimento. Se assim não for, não haverá resgate
algum. A ovelha continua solta por vales e colinas
Hipócrita é aquele que quer ser perdoado se não for por
um sentimento que brote do coração...Igual situação
a de quem perdoa.
O perdão deve ser integral e irrestrito...