Há um ditado chinês que diz: " Aproveitar o hoje é
mais tarde do que supões."
O nosso comodismo nos leva a deixar para amanhã o telefonema para saber
do amigo doente, deixar para outro dia a visita ao cardiologista, deixar para
depois o pedido de desculpas ou o perdão para quem nos implora.
Cátia era assim, como todos somos. Resolveu que no dia seguinte diria
ao namorado que o amava. Orestes estava apaixonado há tanto tempo e,
pacientemente, buscava conquistar o coração da amada.
Ele sabia que ela gostava de outro, mas cobria-a de carinhos, diariamente ,lhe
trazia um bombom e desejava muito que ela o amasse também.
Naquela noite, Orestes fez como sempre ao ir embora. Da esquina, virou-se e
deu um tchauzinho para a namorada , que ainda estava no portão. Tinha
sido diferente dessa vez. Sentira o coração descompassado com
seu beijo, gostou do seu abraço, teve ímpetos de fazer-lhe carinhos.
Nada falou.
Na cama, ficou imaginando um cenário especial para olhá-lo nos
olhos e dizer que seu pensamento e seu coração já lhe pertenciam.Poderia
ser um jantar à luz de velas, um passeio ao luar, uma mensagem daquelas
tipo "loucuras de amor", com carro enfeitado e auto-falantes...O telefone
interrompe seus devaneios. Cátia atende e seu semblante se transtorna.
Orestes foi assaltado e levou três tiros. Acabara de morrer no hospital..
Na tarde seguinte, ela deixou que todos saíssem do cemitério..
Deixou sobre a sepultura um botão de rosa e declarou-lhe seu amor em
lágrimas.
À noite, sonhou com ele, que chegava feliz com um bombom nas mãos.
Beijaram-se e ela falou do amor bonito que ele soube plantar em seu coração.
Ao acordar, chorou...era sonho, ele não mais voltaria.
Mas na mesa de cabeceira, repousava , viçoso, um lindo botão
de rosa e um bombom...