A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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ANTES QUE SEJA TARDE

(Maria José Zanini Tauil)

Há um ditado chinês que diz: " Aproveitar o hoje é mais tarde do que supões."

O nosso comodismo nos leva a deixar para amanhã o telefonema para saber do amigo doente, deixar para outro dia a visita ao cardiologista, deixar para depois o pedido de desculpas ou o perdão para quem nos implora.

Cátia era assim, como todos somos. Resolveu que no dia seguinte diria ao namorado que o amava. Orestes estava apaixonado há tanto tempo e, pacientemente, buscava conquistar o coração da amada.

Ele sabia que ela gostava de outro, mas cobria-a de carinhos, diariamente ,lhe trazia um bombom e desejava muito que ela o amasse também.

Naquela noite, Orestes fez como sempre ao ir embora. Da esquina, virou-se e deu um tchauzinho para a namorada , que ainda estava no portão. Tinha sido diferente dessa vez. Sentira o coração descompassado com seu beijo, gostou do seu abraço, teve ímpetos de fazer-lhe carinhos. Nada falou.

Na cama, ficou imaginando um cenário especial para olhá-lo nos olhos e dizer que seu pensamento e seu coração já lhe pertenciam.Poderia ser um jantar à luz de velas, um passeio ao luar, uma mensagem daquelas tipo "loucuras de amor", com carro enfeitado e auto-falantes...O telefone interrompe seus devaneios. Cátia atende e seu semblante se transtorna. Orestes foi assaltado e levou três tiros. Acabara de morrer no hospital..

Na tarde seguinte, ela deixou que todos saíssem do cemitério.. Deixou sobre a sepultura um botão de rosa e declarou-lhe seu amor em lágrimas.

À noite, sonhou com ele, que chegava feliz com um bombom nas mãos. Beijaram-se e ela falou do amor bonito que ele soube plantar em seu coração. Ao acordar, chorou...era sonho, ele não mais voltaria.

Mas na mesa de cabeceira, repousava , viçoso, um lindo botão de rosa e um bombom...

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