A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

TRÊS DIAS DE AMOR

(Maria José Zanini Tauil)

Mulher de fibra! Mulher corajosa! Mal o marido saiu para o trabalho, partiu para o aeroporto, para receber e conhecer o namorado que chegaria da Bahia. Teriam três dias de amor. Aquele relacionamento já durava seis meses, já era hora de partir do virtual para o real.

Chegaram três aviões de uma só vez, o movimento no desembarque era intenso. Ela colava o rosto no vidro. Onde estava a camisa branca com calça preta?

Já estava nervosa quando alguém que a olhava insistentemente, ao seu lado, a abordou: -Brenda?

-Sim. Respondeu. -Nossa! Você é muito diferente da foto, Iranildo!

Caminharam para o estacionamento do aeroporto. Ele parecia a sua bengala. Dizia ter 1:80m. Ela colocou 10 cm de salto para somarem nos seus 1:62m, no entanto, estava bem mais alta. Além disso, bem gorducho! Quando namoravam virtualmente, ele falava em corpos bem juntos, em abraços apertados...(só virtualmente mesmo) Como unir corpos num abraço apertado, com aquele enorme barrigão como barreira?

Nervosa, Brenda errou o caminho para a zona sul e pegou a Ponte Rio- Niterói. Lá, não há retorno. Percorreu-a toda, perdeu-se em Niterói, até que, uma hora depois, achou o caminho de volta. Tomou o caminho de Copacabana e parou bem em frente ao hotel. Iranildo retirou sua bagagem e abriu a porta da motorista para ajudá-la a descer.

-Não... Só vim trazer você. Não tive tempo de lhe avisar. Minha mãe está hospitalizada e tenho que ir depressa, para render minha irmã, que passou a noite lá. Amanhã eu volto, amor. Fica triste, não. Guarde todas as suas energias para amanhã. Sem esconder a decepção, Iranildo deu-lhe um beijo e entrou no hotel.

No dia seguinte, tomou um bom banho, perfumou-se, colocou um pijama de seda e sentou-se displicentemente numa poltrona para mostrar-se distraído quando ela chegasse. Às oito, ela telefonou, chorosa: -Amor, minha mãe acaba de falecer! Estou desesperaaadaaaa!!!! Mãeeee!!! Iranildo tentou consolá-la e até sugeriu ir ao velório.

-ESTá LOUCO? MEU MARIDO ESTá AQUI! QUER QUE SAIA OUTRO VELÓRIO?

Ele desculpou-se e falou: - E amanhã, após os funerais? Você vem? Meu avião sai à noitinha

-Quanta insensibilidade! Acha que estarei com cabeça para isso? Estarei cansada depois de uma noite sem dormir, tomarei um banho e cairei na cama! Feliz regresso, paixão!

Desiludido, Iranildo fez as contas de tudo que gastou para aquele encontro: passagens de ida e volta de avião, para pagar em seis vezes, empréstimo para os gastos de hotel e alimentação, o crediário para as roupas novas e pijamas...Vira tanto filme pornô pela madrugada, para estar em ponto de bala com a bela morena. Fechou os olhos e imaginou-a ali, na cama, em seus braços.

Em casa, Brenda olha a mãe e diz:

-Desculpe, mãezinha, vou rezar muito para que você tenha longa vida! Obrigada pela sua tão brilhante idéia!

  • Publicado em: 13/09/2003
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente