A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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DOZE OU DOUZE?

(Maria José Zanini Tauil)

Sala-de-aula repleta. Cinqüenta alunos amontoados, num calor escaldante de verão no Rio de Janeiro. Um ventilador de teto roda mecanicamente, sem refrescar ninguém. Uma estufa. Abro a porta para ver se entra uma aragenzinha, mas o barulho dos corredores atrapalha. Cenário bem comum nas escolas estaduais por aqui. Alunos agitados querem a todo instante sair para beber água. E como negar?

Retornamos ao assunto da aula anterior: verbos. Peço que conjuguem o presente do indicativo do verbo colorir. Uns dizem eu coloro, outros, eu coloiro, outros, eu estou colorindo... Peço também os verbos explodir, abolir, falir. Todos conjugam naturalmente... Então lhes apresento a palavra DEFECTIVO. Que bicho será esse? Que são verbos defectivos? São verbos de conjugação incompleta. Os que foram citados não são conjugados na primeira pessoa e não são os únicos da lista. Ninguém chove...soa mal falar coloro, abolo, explodo. Falo ou falho? Nesses casos os verbos são falar e falhar, e não falir.

Um aluno, fugindo completamente do assunto pergunta:

-Professora, é quatorze ou catorze? Eu lhe respondo que as duas formas são corretas. Outro, aproveitando a deixa , pergunta:

-Professora, doze ou douze? Respondo-lhe que o correto é doze. Ele argumenta que o Silvio Santos fala douze. Respondo-lhe que muitos falam errado, até mesmo professores.

Nesse exato momento, somos interrompidos pela entrada da diretora:

-Por favor, o aluno que eu chamar, me acompanhe. Problemas com sua documentação.

Ela consulta uma lista e chama:

- Número DOUZE, Edson Melo Dias.

A turma caiu na gargalhada. Fiquei sem graça. Ela me olhou como se dissesse "COMO SÃO BOBOS! RIEM À TOA"! E saiu.

  • Publicado em: 12/08/2003
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