Quando ouvia falar: "Ser avó é ser mãe duas vezes",
"Avó é mãe com açúcar", "A
gente gosta mais de neto que de filho", confesso, achava um certo exagero
nas afirmações. Mas sem que eu estivesse preparada para assumir
a condição de avó, eis que surge um pequeno ser, delicado,
muito cabeludo...lindo. Era a Camilla. Foi amor ao primeiro susto e à
primeira vista. Para que a mãe concluísse o curso universitário,
eu cuidava dela em alguns dias da semana. O pai vinha para o quartel e a trazia
pela manhã, pegando à tardinha. Que incríveis momentos
vivemos juntas! Ela falou bem cedo. Aos sete meses já tinha um bom vocabulário
e com um ano, falava tudo..".VOCHÊ É MEU AMOR, VOVÓ...TE
AMO". Mesmo quando os pais estavam, era a minha cama que procurava, com
seu paninho de cheirar e chupeta. Às vezes, quando tinha que ir embora,
entrava no carro aos berros, "Vóóóó"...Eu
confesso...chorava também. Mamadeira só feita pela vovó...nem
precisa dizer que a mãe adorava. Logo depois, chegou a Rafaella...linda
e a cara da mãe-bebê. E eu retornava no tempo, revivia a infância
feliz da minha filha. Rafa era uma criança diferente. Ainda é.
Ao mesmo tempo que doce e carinhosa, é rabugenta, manhosa e dengosa.
Prefere um colo-amigo que uma brincadeira. Só quer dormir acompanhada
e, de preferência, com a mão enfiada debaixo do braço de
quem a acompanha. Sui generis essa minha netinha, taradinha por axilas. Mariana,
filha do filho, chegou quando Rafa tinha cinco meses. Quase não curti
sua presença. Quarenta e cinco dias depois de nascida, uma enorme ave
de aço cruzou o céu desse país imenso, conduzindo-a à
nova casa, lá no topo do Brasil, em Roraima . Um ano de distância.
Fotos mensais, informações didaticamente repassadas pela mãe
ao telefone : teve febre, está com diarréia, sorriu, sentou...Ouvia
sua vozinha também, no seu blá blá blá...Como fala
essa menina!
Um dia, Camilla e Rafaella também se foram. O pai foi transferido para
Mato Grosso do Sul. No Aeroporto do Galeão, eu não sabia se chorava
ou catava os pedaços do meu coração pelo chão...Dor...saudade...vazio.
Mês de férias. Mariana chega, prestes a completar um ano. Avó
desconhecida? Que nada! Parecíamos velhas amigas! Muito simpática...muito
comunicativa...muito inteligente. Juro, não é papo de avó!
E como as outras, tem o seu jeito particular de dormir. Enfia uma das mãos
entre os seios de quem a tem nos braços.
Camilla e Rafaella também chegaram de férias. Agora, com muito
conhecimento de causa, posso dizer o que é uma casa de vó com
a presença dos netos: Uma bagunça só, você escorrega
nuns brinquedos, tropeça em outros, minha cama repleta de caixas de vídeo,
pois a Camilla está sempre ligada a diferentes personagens: "AGORA,
RAPUNZEL, VÓ"..."PÕE QUEBRA NOZES"...NãO...SÍTIO
DO PICAPAU, VÓ!"... Uma berra, a outra grita, a outra enfia a mão
no vaso sanitário...
Mas o sol penetra na casa de forma diferente...A casa fica mais iluminada e
a felicidade transborda por todas as janelas abertas.