A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

O Verão Em Que Virei Atlas Geográfico

(Luciana do Rocio Mallon)

Em janeiro de 1982 fui com o meu pai comprar o material , da segunda série , que estava na lista da minha escola . Fomos juntos até a papelaria e constatei que os livros eram interessantes : capas atraentes , letras grandes e figuras coloridas . Porém uma obra chamou - me a atenção , em especial , seu título era : Altas Geográfico . Abri aquele livro e fiquei maravilhada quando descobri que nele havia mapas de todos os continentes do mundo .

Então , naquele instante , pensei :

- Se fosse para ser um livro ...

- Eu seria um Atlas Geográfico !

- Assim eu conheceria o mundo inteiro sem gastar um cruzeiro !

Alguns anos passaram - se , era o ano de 1988 , eu estava na oitava série e a professora de Português fez a seguinte pergunta na sala - de - aula , para cada aluno :

- Que livro você gostaria de ser ?

Meus colegas responderam várias obras , como : Sítio do Pica - Pau Amarelo , Feliz Ano Velho , Sem Olhar Para Trás , que eram livros que faziam sucesso entre os adolescentes na época . Quando chegou a minha vez , respondi :

- Eu queria ser um Atlas Geográfico , professora !

Assim minha colega , chamada Itajara , falou em voz alta :

- Cuidado que seu sonho pode virar realidade !

- Já pensou se ao seu lado , agora , tem um anjo e ele diz amém ?!

- Há um escritor que afirma que quando você deseja alguma coisa o universo todo conspira ao seu favor .

- Já pensou carregar o mundo inteiro nas costas ?!

Confesso que , naquele momento , senti um arrepio estranho . Pois minha amiga Itajara tinha fama de vidente e vivia lendo cartas de tarô para as pessoas no recreio .

Em janeiro de 1989 minha família foi passar as férias na praia de Caiobá numa casas do clube em que me pai era sócio . Percebi que o litoral estava repleto de cachorros nas areias . Mas estes cães não eram abandonados porque sempre estavam passeando com seus donos . Algo que me deu nojo : foi o fato destes animais fazerem suas necessidades na areia . Porém , ingenuamente , pensei :

- Acho que o fato dos bichos de estimação defecarem na areia não significa que os humanos possam pegar alguma doença .

No dia seguinte acordei com uma coceira no meu pé e vi que tinha um ponto vermelho nele . De repente este pontinho começou a andar sozinho e deu a impressão de que ele estava fazendo um mapa na minha pele subindo até a perna . Logo percebi que isto não era pesadelo e sim realidade . Portanto , desesperadamente , gritei :

- Socorro , ô , ô , ô !!

- Tem um fantasma fazendo um Atlas na minha pele !

A minha irmã que estava dormindo , acordou , olhou para o problema e gritou :

- É verdade !

- Uma alma está desenhando um mapa na sua pele !

- Você fez a brincadeira do copo de novo ?!

Como um raio , refleti :

- Na sala de aula eu disse que desejava ser um Atlas geográfico ...

- Será que havia um anjo ao meu lado que falou amém ?!

- Será que a profecia da Itajara realizou - se ?

Após esta confusão meus pais chegaram ao quarto e levaram - me ao dermatologista que explicou :

- Não se preocupe porque não existe nenhuma manifestação sobrenatural na sua pele .

- O problema é que você pegou bicho geográfico na praia .

Deste jeito falei :

- Bicho geográfico ?!

- Ele possui esta mapa , pois faz um Atlas na pele das pessoas ,né ?

- E tem cura ?

- Ou serei obrigada a ser um Atlas para sempre ?

O doutor respondeu :

- Tem cura , sim !

- Receitarei pomada à base de cambendazol ...

- E , daqui há alguns dias , você ficará curada ...

- Pronta para uma nova temporada na praia !

Assim pensei :

- Praia ?!

- Nem pensar !

Mas , com certeza , a experiência de virar um Atlas geográfico foi inesquecível . Afinal , não é qualquer um que consegue ter uma aventura tão emocionante .

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente