O desejo desenfreado de consumo alimentado pela tv e a falta de oportunidades
para a maioria da população levaram a sociedade a mudar seus hábitos
de forma veloz e dolorosa. Talvez o fato abaixo seja um ciclo vicioso que produz
seu próprio combustível. A violência generalizada (na cidade
e já chegando no campo) tem retido as crianças em casa. Na maioria
das vezes, brincando sozinhas por horas a fio com seus jogos de games, cuja
maioria concede pontuação máxima para quem consegue destruir
construções virtuais e matar o "inimigo". E nos intervalos,
assistem filmes de terror e expedições onde as batalhas jorram
sangue na tela a cada 30 segundos. A gurizada chega a sujar suas vestes com
ketchup para sentir-se integrante ativa de cada cena apresentada.
Se as comunidades que pagam impostos e não recebem benefícios
em troca fossem suficientemente engajadas no sentido de preservar as cabeças
em formação de seus herdeiros, fariam pressão adequada
sobre as emissoras para mudar os horários destas películas. Se
um décimo da turma que se reúne na Rua Alzira (RJ) para idolatrar
a seleção de futebol tivesse ânimo para debater os problemas
do bairro a cada três meses, com certeza as nossas autoridades passariam
a ter outra postura.
Como também solicitariam que os produtores de games criassem jogos onde
a pontuação máxima fosse concedida aos que salvassem vidas,
construíssem prédios seguros, evitassem acidentes de trânsitos
e tantas outras situações carentes de nosso cotidiano.
Aí sim, estes entretenimentos também passariam a ter caráter
educativo. Com certeza seriam reduzidos os casos de jovens agredindo parentes
para obterem recursos para consumo de drogas. Ou para comprarem armas e atirarem
nos colegas da escola. Bem como brigas entre torcidas de futebol, portas de
boate, trânsito.
A não ser que o objetivo seja mesmo eternizar o ambiente guerreiro que
envolve o mundo para que as armas encalhadas em enormes estoques sejam negociadas
em grande escala e não percam seus prazos de validade.