Durante as disputas eleitorais, partindo-se do princípio que realmente
existe "oposição", ocorre uma preocupação
com o programa de contabilização dos votos. De acordo com os interesses
dos grupos dominantes, existe uma suspeita por parte de eleitores esclarecidos
de que milhares de votos podem ser canalizados para os candidatos A ou B. Tal
clima criado até chega a ser conveniente para dar certo aspecto humano
ao processo. Similar aos calorosos debates que vendem jornais após um
jogo de futebol onde a torcida do time derrotado por 5 x 0 culpa o juiz pelo
impedimento que anulou um gol de seu time quando o placar adverso era de 2 x
0. E as discussões se o perneta que ganha R$ 200 mil reais jogará
na semana seguinte. Ou se a morena que faz papel de empregada na novela da tv
casará com o sujeito bem vestido filho do rico fazendeiro.
No entanto, considerando-se que o processo de administração
pública é planejado de acordo com os interesses dos grupos patrocinadores
para os próximos 10 anos, a "ditadura econômica" é
arquitetada de forma a não deixar vestígios contundentes sobre
as feridas que machucam a população. Preparam o candidato adequado
para suceder o atual gerente (caso este esteja desgastado), bem como os que
farão papel de "centro" e "oposição",
que mesmo vencendo seguirão a cartilha dos poderosos, executando práticas
contrárias aos discursos de campanha. Dentro deste planejamento bem equacionado,
mesmo que o candidato preferido não vença, uma das duas alternativas
maquiadas atende aos interesses do grupo dominante, mesmo dando um pouco mais
de trabalho para empurrá-lo pela goela dos desesperados ansiosos por
mudanças das condutas públicas. Assim sendo, a necessidade de
manipular os votos tirando alguns de D e acumulando para B quase se torna desnecessária.
No entanto, existe um risco previsto pelos mentores do espetáculo teatral
que não é conveniente correr. Este sim, o verdadeiro inimigo da
estrutura que fascina o povo e o deixa anestesiado acreditando que ter saúde
é possuir mais de 20 dentes na boca, liberdade é poder transitar
pendurado pela parte externa do velho trem canibalizado, alimentação
é pão com café, bom salário é mínimo
e felicidade é sonhar com a loura da novela da tv colorida de 42 polegadas.
Este inimigo perigoso é o voto nulo. Se o povo começar a perceber
que dentro do circo seu papel é de mero palhaço com vestes de
retalho e começar a demonstrar seu protesto através desta manifestação
silenciosa mas poderosa, as bases podres do poder secular correm sérios
riscos de abalo, que podem provocar uma queda mais estrondosa do que a do antigo
império romano.
Assim sendo, com o advento das urnas eletrônicas, que canalizam votos
para programas que não são liberados para conferência aberta
(além do mais, os indicados talvez não tenham exata noção
do que devem conferir e "assinam" qualquer coisa) e que se negam a
imprimir um comprovante para posterior checagem aleatória, o maior risco
de fraude (e mais dissimulado) corre por conta do desvio dos votos nulos em
partes iguais para os 4 ou 5 candidatos que não possuem mais de 2% de
chances de assumir o cargo ao qual concorrem. Hipoteticamente, se os candidatos
A, B e C possuem juntos 55% das intenções de votos e a tendência
dos nulos ronda os 40%, traduzindo a revolta do povo contra o sistema, o programa
"idôneo"(?) deve reduzir esta cota para 10% e realizar a divisão
do excedente pelos últimos colocados, para não chamar a atenção.
E assim, a farsa diante do mundo é rotulada de democrática, limpa
e moderna, avalizada por aqueles que não sabem nem manipular seus cartões
bancários diariamente nos portentosos caixas eletrônicos. Imaginem
usar uma maquineta mal encarada que se apresenta a cada 2 anos para validar
um processo que não alavanca os projetos populares.
No caso de vitória dos nulos, a situação das elites seria
catastrófica. Um segundo lugar, seria incômodo.
Tão logo termina a balbúrdia da festa da dança das cadeiras,
a rotina volta ao normal. Os produtos básicos aumentam, o poder aquisitivo
cai, o investimento industrial cai, o desemprego aumenta, as filas nas portas
de hospitais e escolas se prolongam pelas frias madrugadas, os impostos são
elevados e os políticos profissionais bem remunerados (e bem gratificados)
fazem uso dos valores públicos conforme as definições de
seus patrões. E usam a criatividade apenas para editar leis para os amigos
ficarem impunes e elaborar novas promessas para "resolver" velhos
problemas, alguns com mais de 100 anos de existência e com solução
em menos de 6 meses.
Quem garante o destino correto do voto nulo se não há como conferir
nada depois do pleito?
Se os votos dos puros não produzem efeito, talvez o nulo dê um
jeito!