Para conseguirmos alguma mudança em qualquer área social, é
preciso que o clamor público seja conduzido pela imprensa sadia unida
para que os dirigentes que dão as canetadas nos escutem. Por isto estamos
lhe enviando este texto bem como a outros colegas com preparo profissional similar
e com credibilidade equivalente junto ao público que os acompanha por
vários anos através de seus poderosos veículos de contato.
Mesmo que você seja mais jovem do que eu, certamente já teve a
felicidade de assistir exibições de alto gabarito do futebol brasileiro
em nossos estádios. Algo que era corriqueiro até o final da década
de 80. E que só resgataremos com a manutenção de nossos
melhores jogadores em nosso território e algumas mudanças de comportamento
por força de lei ou pressão da mídia.
De lá para cá, estas exibições tem sido raras. Os
motivos são diversos. Os mais citados são:
- redução de espaços abertos onde outrora os moleques quase
pelados praticavam peladas alimentando enormes celeiros de jovens com alto potencial
futebolístico. Estas áreas foram substituídas por escolinhas
que em muitos casos inibem a criatividade de alguns promissores adolescentes,
obrigando-os a atuarem de forma "burocrática" e previsível.
-elevação do gabarito da preparação física
que permite que os defensores rapidamente provoquem trombadas contra os atletas
mais técnicos. Sempre é mais fácil destruir do que criar
algo elaborado. Fora a brandura das penas aplicadas.
-árbitros despreparados que não inibem com rigor as jogadas mais
violentas. A legislação esportiva oferece muitas brechas para
atenuar e perdoar atos violentos dos botinudos. A quantidade de faltas precisa
ser reduzida (como no Futsal) para que o jogo possa transcorrer com mais desenvoltura.
-jogadores deslumbrados com a ascensão meteórica se desgastam
em noitadas mal dormidas e não rendem o máximo nos dias de jogos
onde a exigência de esforço seja maior. Não seguem as normas
disciplinares do clube. Total falta de profissionalismo. Os clubes fingem não
ver.
-êxodo maciço de nossos melhores jogadores para outros continentes.
Nossa desorganização fora das quatro linhas não nos permite
montar uma estrutura adequada para concorrer com os poderosos clubes europeus
e oferecer condições atrativas para nossos atletas permanecerem
aqui. Até a Ásia consegue atrair nossos promissores jovens. Só
teremos bons patrocinadores quando a administração for transparente
e livre de vaidades. E quando as leis fecharem as brechas que ora existem.
-contratação de jogadores em fim de carreira que os estrangeiros
não desejam mais. Estes atletas já realizados financeiramente,
retornam por saudade da terra nativa para desfrutar do que melhor temos: mulheres
bonitas, praias, sambas, cervejas, recantos bucólicos sem neve e fãs
atuantes. Certamente (pois são humanos) não se empenharão
da mesma forma que quando estavam no início da carreira. Já não
entram nas divididas com o mesmo entusiasmo.
-táticas e estratégias voltadas para a defesa aglomerada em função
de regras que não incentivam o ataque constante que fatalmente resulta
no que de mais belo e emocionante existe neste esporte: O GOL! Jogos terminados
em 0 x 0 não deveriam conceder pontos aos dois times! Times que goleiam
(mais de 3 gols de diferença) deveriam ser premiados com ponto extra.
-legislação benevolente com empresários e procuradores
que forçam contratações visando apenas seus lucros pessoais.
A saúde financeira do clube fica em terceiro plano. Desta forma, os grandes
clubes devem até a sede aos cofres públicos. Os clubes menores
já não montam mais equipes capazes de produzir "zebras"
que empolgavam nossos campeonatos.
Este conjunto de fatores está afastando os torcedores dos estádios.
Aliados a outros de importância semelhante, tais como:
-datas e horários inadequados de jogos. Alguns terminam após 23:55
hs. Fica difícil para quem precisa acordar às 5:00 hs só
poder dormir 3 ou 4 horas. Sem contar os regulamentos confusos e ilógicos
que às vezes regem os torneios.
-falta de segurança nos estádios e adjacências. Torcidas
"organizadas" promovem badernas que espantam famílias. Após
50 metros dos estádios o torcedor não conta com nenhuma proteção
policial para trafegar rumo ao seu lar.
-desconforto dentro e fora dos estádios. Assentos sujos e quebrados.
Sinalização e iluminação deficientes. Banheiros
sem água, sabão e papel higiênico. Bares com alimentos de
origem suspeita. Infiltrações nas coberturas e poucas bilheterias
para atender a multidão de compradores de ingressos (mesmo antecipados).
Confusão nas ruas próximas e nos estacionamentos irregulares.
-transporte inadequado. Redução dos veículos coletivos
após 23:00 hs. Metrô abarrotado e quente. Trajetos equivocados
nestes horários.
-custo do espetáculo. Um par de torcedores (em geral pai e filho) consome
no mínimo R$ 140,00 (ingresso+transporte+lanche) para assistir a um jogo.
O baixo nível salarial de nosso povo não permite esta aventura
mais de uma vez por mês. E o padrão dos jogos não motiva
a ponto de tanto sacrifício.
-canais fechados para que o clamor público se faça presente. Jamais
as sugestões de torcedores (os que pagam) foram coletadas para ajudar
na melhora do espetáculo. A mídia pode fazer isto com baixos custos
e encaminhar com credibilidade. E cobrar.
Todo este pacote de "maldades" contribui para que jogos como Botafogo
x Flamengo e Palmeiras x Corinthians tragam menos de 20.000 torcedores para
os estádios. Na década de 80 este número nunca era inferior
a 60.000 expectadores.
Como nossa seleção só tem sido formada por atletas que
residem fora do país, não temos oportunidade de assistir os melhores
em nossos campos, mesmo tendo de superar todos os obstáculos citados
acima. Somente assinantes de TV a cabo desfrutam de tais jogos.
Este cenário contribui para uma gradativa redução do entusiasmo
dos nossos torcedores. A persistir esta curva descendente, dentro de poucos
anos dezenas de profissionais do ramo futebolístico (inclusive jornalistas)
perderão espaço para trabalhar.
Esta visão que aqui registramos, deve refletir o sentimento de mais de
90% dos torcedores. Basta efetuar uma rápida (e barata) pesquisa em escala
nacional através da mídia para comprovar esta suspeita.
Certamente cada um de nós tem diversas sugestões para minimizar
(e eliminar) vários dos problemas que nos incomodam.
Apesar de vocês serem especialistas competentes do ramo, com certeza não
se furtariam a juntar opiniões de seus seguidores para montar um documento
elencando as medidas mais adequadas com tal objetivo. Estas opiniões
seriam coletadas por pesquisas simples através de seus canais de comunicação.
Sem maiores ônus para gerenciá-las.
Após uma triagem de consenso, o tal documento seria encaminhado a uma
comissão (CBF+ federações+árbitros+donos de jornais+rádios+TVs+segurança
pública+empresas de transporte+câmara legislativa+patrocinadores)
para que fosse criada uma cruzada de recuperação da ALTA qualidade
do nosso futebol que sempre nos encantou e que sem dúvida causa inveja
e temor aos demais países. Pelas enormes dimensões de nosso território,
certamente temos capacidade para montar de 3 a 4 seleções nacionais
superiores a todas as restantes do planeta. E gerar postos de trabalhos e bons
lucros.
Algumas medidas poderiam ser convertidas em leis. Outras passariam a fazer parte
de uma norma de conduta da CBF. Outras fariam parte de acordos éticos
(?) entre os dirigentes sem vaidades (??). Algumas experiências podem
ser efetuadas nas categorias sub-17 e feminina com aval da FIFA. Com ajuda dos
militantes lúcidos da imprensa, certamente chegaremos a consenso de agrado
geral para combater este marasmo que se instalou em nosso esporte preferido
e lentamente esfacela nosso entusiasmo.
Dentre as dezenas de questões possíveis a serem coletadas, de
imediato (e humildemente) sugerimos a seguinte:
A seleção de futebol deve ser convocada seguindo o seguinte critério
(podendo mesclar alguns):
a) Apenas jogadores que estejam atuando no Brasil no mínimo por 2 anos.
b) Convocar no máximo 25% de "estrangeiros" (a experiência
deles lá fora não deixa de ser útil ao treinador).
c) De forma que a média de idade seja inferior a 25 anos.
d) Que tenham atuado em mais de 80% das partidas da última temporada.
e) Não tenham tido mais de 4 expulsões durante a última
temporada.
f) Outra sugestão (descreva em até duas linhas).
Sem mais no momento, despedimo-nos na esperança de que algo de útil
possa ser extraído deste resumo e possa auxiliá-los nesta complicada
batalha que certamente vai esbarrar em fortes interesses (às vezes escusos)
para manter este "caos" dentro de nossas fronteiras. Mas se vocês
se unirem e abraçarem esta causa e apoio de ex-atletas que criaram o
entusiasmo que ainda nos alimenta, tenham certeza de que o povo os apoiará
na pressão que forçará os dirigentes a adotar atitudes
saudáveis no sentido de preservar nosso maior patrimônio:
O FABULOSO FUTEBOL BRASILEIRO!
Uma cruzada comandada por jornalistas sérios, competentes e preocupados
com o futuro de nosso esporte preferido, com certeza terá sucesso garantido
e agradecimento dos fãs do tão decantado "futebol-arte".
Além de alargar os horizontes profissionais para diversas categorias.
Estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos que
se façam necessários sobre o que foi resumidamente exposto acima.
Boa sorte para todos nós.