Vez por outra nos damos conta de que são os mesmos personagens que
estão ocupando cargos públicos há mais de 30 anos. Virou
profissão para eles. Os elementos A, B, C, ... Z a cada 2 ou 4 anos mudam
de cargo: Governadores para Prefeitos, depois tornam-se Deputados, Vereadores,
retornam à Prefeitura, assumem uma secretaria e ficam ali em volta da
doce colméia do farto dinheiro público impedindo que uma nova
turma de pessoas oxigenem o ambiente e alterem o processo de condução
de nossas vidas. Um novo elemento (na maior parte das vezes um parente próximo)
só entra neste circuito depois de sabatinado com rigor e devidamente
"doutrinado" a perpetuar o "esquema" que lhes garante embolsar
algumas vantagens que jamais conseguiriam através de trabalho honesto,
tendo em vista que grande parte deste bando não possui currículo,
mas sim folha corrida.
Alguns de nós chegamos a imaginar que depois de um primeiro mandato,
o incauto já poderia se retirar da vida pública com os valores
obtidos em negociatas e usando este montante acumulado e economizado (quase
nada gastam pois as mordomias são polpudas e as "comissões"
bem mais), para montar algum tipo de negócio próspero. Não
fazem isto por duas razões básicas:
1 Alguns são incompetentes para gerenciar empresas de qualquer
tamanho. Até um carrinho de pipocas. Comprovam isto com os desleixos
que cometem nas repartições e gabinetes que comandam mesmo por
algum período curto e rombos enormes. Desviam e deixam que em outras
esferas também aconteçam sangrias. Não podem estabelecer
controle para as verbas, pois estariam dando um tiro no pé. E temem que
em suas empresas surjam meliantes de igual quilate que possam desviar seus patrimônios
da mesma forma como ocorreu com o patrimônio público.
2 Muitas vezes os esquemas de desvios foram mal elaborados e deixaram
rastros difíceis de apagar. Por isto o sujeito (ou o grupo) que comandou
o plano quase que se vê obrigado a repetir o mandato por outros períodos
para impedir que haja uma auditoria que faça devassa nas contas durante
a gestão anterior. Ele torna-se um vigia permanente sempre atento, movendo
o tapete para a região onde a sujeira ameaça despontar. Só
consegue se livrar deste fardo depois que prepara um sucessor tão canalha
quanto ele, com um passado já recheado de alguns delitos (devidamente
armazenados num dossiê) e que se comprometa a impedir que fatos antigos
de desmandos administrativos sejam desenterrados. Por precaução,
criam barreiras sólidas (e custosas) na Justiça.
Esta conduta predatória não acontece apenas nos cargos públicos.
Ocorrem também em sindicatos, entidades sociais, associações
diversas, condomínios e cooperativas. Eu sou sócio de um clube
recreativo perto de casa, onde o atual presidente acaba de ser reeleito (deve
ter feito muitos "acordos" para obter apoio) para o terceiro ou quarto
mandato seguido. Mesmo sem termos acesso aos documentos contábeis (aliás
ele nunca nos apresentou balancetes periódicos das movimentações
financeiras) dos arquivos agora informatizados, já soubemos que as dívidas
trabalhistas alcançam patamares elevados e o elevador está empenhado
para garantir a indenização de antigo funcionário que obteve
suada vitória no tribunal trabalhista. Mas os recursos são esticados
torcendo para que o sujeito morra e depois possam fazer um acordo
mais barato com os herdeiros.
E as festas oferecidas às autoridades, jornalistas e personalidades
sociais da cidade custeadas por nossas mensalidades, pelos contratos de propaganda
e pelas escolinhas diversas continuam portentosas e fartas, para agradar aos
que de alguma forma podem retardar as ações explosivas que podem
deitar por terra um conceito criado ao longo de alguns anos de comando da entidade
esportiva. Por isto nosso futebol é maravilhoso dentro de campo e de
péssima qualidade no que se refere à administração.
Nossas entidades outrora respeitadas e enfeitadas por brilhantes rótulos
escritos por nomes de valentes patriotas atualmente abrigam dirigentes comprometidos
com o moderno (nem tanto) esquema de lama.
Sabemos todos que para se manterem no poder desgovernado os abutres praticam
todas as artimanhas imagináveis. Desde a imposição do voto
aos mais ignorantes (como os "coronéis" fazem no interior flagelado
pela seca controlada), passando pela compra de votos diante de "formadores
de opinião" (que são agraciados com cargos do terceiro escalão
para baixo), até o uso de programas eletrônicos de apuração
de votos passíveis de vícios (que o TSE não deixa ser analisado
abertamente por entidades insuspeitas). E se sabemos disto, as entidades pelas
quais no passado tínhamos orgulho (jornais, OAB, CNBB e outras Bs) são
comandadas por pessoas que até podemos conhecer, também sabem.
E se não se levantam pela defesa do processo limpo de definição
do comando, entram na listas de suspeitos que estão levando alguma vantagem
em troca de seu apoio e de seu prestígio conquistado no passado, que
pelas atitudes presentes, comprometem nosso futuro. Por todo este complexo montado,
que se desmoronado vai revelar conceituados nomes da sociedade, não lutam
por uma transparência do sistema eleitoral, que apenas encena uma farsa
para dar credibilidade à permanência dos "mesmos" nos
postos de comando. Por isto NÃO divulgam ao eleitor a opção
de como votar NULO, pois pressentem que pode eclodir uma rejeição
espontânea em massa que fatalmente abalará a podre estrutura do
poder corrompido que começa a se solidificar e exibe uma longa perspectiva
de permanência sob nossos olhares acomodados.
Já que Deus e seu exército de anjos estão ocupados com
as guerras (para esvaziar depósitos de armas com prazo de validade quase
vencido) e a fome no resto do mundo, que a Natureza tenha pena de nós.
Para que nossos netos tenham oportunidade de conhecê-la ainda que devastada.