Uma entidade da sociedade egípcia, provavelmente também usando
a Internet, conseguiu mobilizar uma expressiva parcela da população
para expulsar o ditador que há 30 anos desfrutava de elevadas mordomias
em troca do sofrimento do povo.
Foram 18 dias de protestos corajosos enfrentando o aparato governamental que
lamentavelmente ocasionou quase 350 mortes.
Mas o povo não arrefeceu e manteve sua postura de enfrentamento em busca
de um ideal maior. A LIBERDADE.
E conseguiram seu objetivo. E expurgaram o ditador que já não
contava mais com o "entusiasmo" de seus lacaios.
Fechando os olhos e sonhando por um instante, nos transferimos para nossa terra
visualizando nosso povo reagindo com indignação contra TODOS os
temas sociais que não são atendidos razoavelmente apesar dos ELEVADOS
impostos sangrarem 4 salários nossos durante o ano!
Mas abrindo os olhos, observamos que o povo não está internalizando
os fatos ocorridos no Egito para daí extrair alguns exemplos de cidadania.
Apesar de 350 mortes representarem menos de 0,001% de nossa população
(morrem o dobro disto por mês resultante de assaltos, acidentes em estradas
mal conservadas e hospitais sem estrutura), jamais enxergamos isto como viável.
Claro que receamos ser uma das heróicas vítimas.
Então preferimos mesmo afogar nossas mágoas e angústias
com a mente mergulhada dentro da tela de LCD analisando os paetês das
fantasias carnavalescas ou as rendas das calcinhas das "bibas" que
são colocadas no paredão do BBB.
Afinal de contas, indignação não se aprende na escola.
Ela corre nas veias de quem sabe valorizar seus direitos e respeita seus heróicos
antepassados que lutaram e se doaram para nos oferecer uma vida digna. Nós
não temos estes heróis para venerar. Algo que nos impulsione a
lutar pela preservação. Mesmo sabendo do malefício que
nos custará caro dentro de 25 ou 50 anos, pouco nos importamos com as
queimadas criminosas da Amazônia. Se isto acarretasse falta de TV durante
uma semana, aí sim, o povo iria protestar nas praças.
Aqui não é o Egito das grandes ondas cívicas. Somos apenas
o país do "agito". Sem marola.