A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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A nossa medalha

(Haroldo P. Barboza)


Já incorporamos como normal o consumo de produtos piratas. Absorvemos tal prática por ação danosa de dois culpados principais:

1 - fabricantes que não exercem a filosofia de evitar desperdícios para baratear os produtos;

2 - governantes que praticam altos impostos para suprir as contas públicas arrombadas por corruptos (aliados) que poluem as esferas decisórias.

Resultado: o consumidor com baixo orçamento, prefere adquirir produtos de insuficiente qualidade, que em certos casos executam as mesmas funções do produto elevado (inclusive no preço). Em alguns momentos a conta que favorece o consumidor é simples, como no exemplo a seguir: Produto BOM dura UM ano e custa R$ 100,00. Produto ruim dura 4 meses mas custa R$ 25,00. O consumidor vai economizar 25% em um ano.

A pirataria não envolve apenas bens materiais. A moral e a ética dos nossos dirigentes também são falsas. Como as promessas que fazem na época das eleições. Como os projetos que alardeiam ao longo de suas estadias nos gabinetes do podre poder e cujas siglas (puxe pela memória dos últimos 8 anos) causam impacto na imprensa (tem até coquetel em favela) e murcham depois de alguns meses de verbas mal aplicadas e que não são explicadas (nem o aumento do patrimônio do político que encabeça o projeto).

E como não poderia deixar de ser, a área esportiva também é atingida.

Ainda não esquecemos o PAN-2007, onde grandes edificações foram erguidas para funcionarem por 3 meses e largadas à sorte após o final da competição. Os compradores de apartamentos na vila olímpica perto da Avenida Ayrton Sena (RJ), depois de um ano, encontram dificuldades para morarem no local, pois a infra-estrutura já revela problemas que só deveriam surgir após 40 ou 50 anos de vida.

No entanto, na época estes problemas não vieram à tona com ênfase na imprensa, que encobria os desvios de conduta com as manchetes que exaltavam as nossas valorosas medalhas (dezenas) conquistadas contra adversários oriundos de países da América do Sul, menos capacitados na área esportiva. Porém, mais preocupados com o bem estar social e crescimento comercial de seu povo.

Tal entusiasmo contaminou grande parte da inocente galera, que acreditou ser possível ao nosso país desenvolver em 2008 na Olimpíada de Pequim, um processo que pelo menos chegasse aos 50% do sucesso do ano anterior e pudéssemos estar no mesmo nível de nações que se preocupam com o futuro de seus jovens há dezenas de anos. Quanta ilusão!

Ao término do maior evento esportivo do planeta realizado na China, despertamos para a dolorosa realidade. Apesar dos valorosos sacrifícios de nossos esforçados atletas (agradecemos o empenho demonstrado por eles com altos sacrifícios), temos de nos contentar com a 23ª. posição (atrás de alguns esfomeados africanos) obtida com as 15 medalhas (apenas 3 de ouro entre as quase 230 disputadas) conquistadas com enorme valentia pela maioria de nossos desamparados atletas. Afinal de contas, esta é a colocação adequada para quem não dá importância à verdadeira dimensão educacional que os esportes representam dentro de um país que deseja preparar seus jovens para ajudarem a nação crescer.

Para que nossa posição melhore no futuro sem que os dirigentes tenham de investir na juventude e trabalhar, podemos solicitar que o COI inclua duas novas modalidades onde somos imbatíveis: corrupção e acomodação!

E com este resultado obtido, agravado pelo baixo desempenho do futebol masculino (se ganhasse, renderia muitos votos aos dirigentes que tirassem retratos com os atletas), a imprensa amordaçada não terá como encobrir por mais de 2 ou 3 dias os desmandos de nossos administradores públicos. Depois de estampar as belas imagens da festa final, terão de encontrar outras camuflagens para tal.

Louvemos os atletas (excetuando o futebol masculino que é paparicado ao extremo) que apesar da falta de incentivo por parte dos dirigentes, conseguiram superar diversos países que se preocupam em expandir a educação e os esportes para tirar seus jovens do universo das drogas. Que cada medalhista nosso exiba e guarde seu troféu com orgulho e não permita que nenhum político tente obter prestígio em cima de um feito para o qual jamais colaborou e que agora deseja apenas obter lucros eleitorais.

Resta ao povo carregar sua tocha sem brilho e esquecer (nisto somos bons) o fiasco esportivo (menor que os sociais) e efetuar um profundo debate com a própria consciência para responder à pergunta fundamental, que decide o rumo desejado para nosso futuro obscuro até agora.

Dentre os candidatos (são os MESMOS há mais de 20 anos) às próximas eleições existe pelo menos UM em nosso município que pretende usar seu mandato com transparência pensando apenas no bem da comunidade?

Se você responder NÃO, lembremo-nos da dolorosa opção (que não divulgam por medo de alertarem os eleitores) a ser escolhida no dia do pleito. Ainda que não tenhamos confiança no processo eleitoral que não materializa os votos para garantir a credibilidade da democracia. Se suspeitarmos do sistema de votação "invisível" (nem o Paraguai o usa), não devemos prestigiar tal farsa. Mesmo sem medalha visível aos demais (ela pulsa dentro de nosso peito), seremos um vencedor aos olhos dos que nos admiram.

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