A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Restauração demorada

(Haroldo P. Barboza)


Alguns lúcidos portadores de profundas esperanças acreditam que a mudança de decadência e miséria do cenário nacional só é possível através do voto correto. Estão corretos no pensamento mas enganados quanto ao tempo, pois tal fato só acontecerá depois de dolorosa convulsão social que está por eclodir. Isto pode ocorrer entre 20 e 50 anos, conforme o grau de aperto da corda covarde do Estado que envolve o pescoço da sociedade domesticada como cordeiro de presépio e anestesiada pela mídia comprometida com os patrocinadores de campanhas eleitorais suspeitas. Quando não houver meios de sustentar as barbaridades administrativas em voga, a represa de lama vai desabar sobre inocentes (os culpados já terão levantado vôo).

Os gestores públicos, confortavelmente instalados nos gabinetes refrigerados, não produzem nada de palpável para que a sociedade possa desenvolver em paz sua potencialidade no sentido de elevar nossa qualidade de vida. Apenas equacionam fórmulas de cobranças de impostos extorsivos sem nada em troca aos pagantes e brigam entre si para definir a partilha do montante obtido.

Nossa sociedade é constituída de 90% de miseráveis e necessitados sem oportunidade que pouco pagam de impostos, pois não possuem meios de fazê-lo. Existe uma parcela de 0,1% de abastados que também não pagam, pois trafegam pelas brechas da lei e escoram-se na impunidade para deixar de cumprir suas obrigações fiscais. Portanto, cabe à classe média arcar com a carga tributária (40% de seus ganhos) que sustenta a corja de abutres encastelada no altar do podre poder.

Quando acontecem as eleições não temos opção de escolher candidatos comprometidos com o bem estar social, pois tais elementos já são sabotados dentro dos próprios partidos (dirigidos pelas raposas) e desencantados e sem recursos não conseguem deslanchar suas campanhas. Eventualmente permitem e dão ênfase à figura de algum inocente útil que assume um cargo público cheio de esperanças, mas logo é envolvido pelos caciques dos abutres ou são marginalizados e camuflados pelo manto negro da sigla que o abriga.

Além do mais, com o advento do uso das urnas-E nos pleitos sem possibilidade honesta de conferência dos resultados, existem altas oportunidades de se compor o resultado conforme interesses dos grupos estelionatários de nossa dignidade.

Portanto, para os pacíficos acomodados iludidos pelo deslumbramento de índices falsificados que mascaram a realidade de miséria que já atinge nossas portas, só resta uma forma de emitir um grito silencioso e audacioso, mas de alto poder de impacto se for executado numa grandiosa parceria cívica desnudada de vaidades: votar NULO.

Se conseguirmos 51% de adesões, ainda que distorçam as interpretações das Leis (escritas por eles, sem nossa participação), estaremos mostrando ao mundo que nossa paciência esgotou e que estamos prontos para varrer as ratazanas gordas que infestam os palácios suntuosos e abastados de nossos dirigentes públicos.

Vamos enxotá-las com coragem e certeza de estarmos exercendo a verdadeira cidadania que deixará nossa alma alimentada de alegria, já que a barriga está vazia.

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente