A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Rumo ao matadouro

(Haroldo P. Barboza)


Teoricamente, através do democrático direito de voto, temos a possibilidade de escolher pessoas adequadas para conduzir os destinos de nossos núcleos de convivência (Município, Estado, Nação). No entanto, tal direito fica comprometido pelos seguintes fatos:

- Se dentro de todas as opções oferecidas para efetuarmos a escolha existem elementos que efetuam secretos conchavos escusos justamente com pessoas de corrente contrária ao pensamento exposto e dos quais só tomamos conhecimento quando um prejudicado no acordo joga a lama no ventilador;

- se as pomposas siglas partidárias apenas existem para camuflar a falta de ideologia de seus integrantes pois o que mais se observa são alianças de extremos que se unem e se desfazem a cada 6 meses (conforme a não observação dos rateios combinados entre os pilantras);

- se eventualmente entre 6 opções possíveis de candidatos ao cargo da vez existe um realmente honesto e por isto não tem o espaço adequado na mídia para conseguir divulgar seu passado honrado e suas pretensões diante do novo desafio, não consegue apoio de entidades que ainda acreditamos ter alguma credibilidade na sociedade;

- se não temos meios efetivos que nos permitam uma possível investigação mínima no histórico de cada um dos elementos que se apresentam como "dedicados" patriotas com intenção de assumir a gerência de nossos destinos e que posteriormente se deixa deslumbrar pela posição de falso comando e apenas cuida para que o sistema em uso não seja perturbado;

- se ainda assim fosse possível obter uma conclusão que nos desse 90% de certeza de que o candidato escolhido teria vontade e empenho de tentar iniciar o processo (através de medidas iniciais que demonstrassem tal desejo) de resgate de nossa qualidade de vida, ficaríamos na dúvida se o mesmo chegaria a obter a vitória em função das suspeitas urnas eletrônicas que não emitem comprovante para posterior conferência aleatória;

- se fosse possível ter certeza de que o processo eleitoral é honesto e o candidato honesto assumiria o posto, começaria a adotar medidas voltadas para a efetiva inclusão social do povo através de pressão para que os ladrões dos bens públicos fossem afastados dos postos de onde conseguem comandar os processos de furtos, passaríamos a temer por sua segurança;

Então ...
certamente os grupos derrotados iniciariam algum tipo de campanha de desmoralização, produção de situações desconfortáveis e sabotagem para a gestão deste elemento que passou a significar um entrave aos planos de sucateamento das ricas fontes naturais. Se preciso for, não hesitarão em elimina-lo de forma a transforma-lo em ídolo e erguer um busto seu em alguma praça já ocupada pela miséria.

E os mecanismos legais atualmente em vigor, propositalmente mal redigidos pelos que usam as brechas das Leis para continuarem impunes e sorridentes, não nos oferecem a possibilidade de externarmos nossa indignação de forma pacífica mas que pode produzir fatos de alto impacto nos bolsos das ratazanas que sustentam o atual modelo de gestão de nossos destinos, que engessam as possibilidades de alterarmos o atual cenário nos próximos ... 500 anos.

Também não temos a índole guerreira (alimentada por uma orgulhosa memória heróica de antigos bravos patriotas) para juntarmos nossas forças em movimentos que exigem algum sacrifício mais prolongado como forma de protesto. Mal sabemos manipular uma tesoura para abrir uma caixa de leite. Quanto mais sacudir armas enferrujadas para assustar os lacaios do poder financeiro. Nenhum fato grotesco e tenebroso por parte das autoridades corruptas que infestam todos os escalões de governo é capaz de levar a população prejudicada a abdicar de dois domingos de praias, de futebol ou de 3 noites de novelas de tv, um paredão de BBB ou de ensaios de escolas de samba. Nem mesmo alguns simples e indolores movimentos de boicote contra produtos supérfluos que atinjam os cofres dos abutres que patrocinam as caixinhas destinadas a comprar as consciências dos administradores públicos.

Desta forma, basicamente torna-se inútil comparecer às urnas apenas para oficializar uma questão que já está decidida há dezenas de anos. Certamente os mariscos que estão grudados no rochedo do poder já planificaram os futuros "vencedores" das próximas 2 ou 3 eleições. Todo o circo composto pelas campanhas eleitorais apenas é uma forma de evento para que diversos segmentos obtenham lucro com os artefatos envolvidos. Funciona dentro do mesmo modelo básico espalhado pelo mundo: de tempos em tempos cria-se um "incômodo" e vende-se uma "solução". Se um governo ameaça cortar o orçamento de uma instituição de segurança, esta detona uma bomba e pede a triplicação de sua verba para combater o "terrorista" que ameaça a "paz". E um suplemento para reconstrução da área devastada.

Se nossa vontade não consegue ser retratada dentro deste modelo engessado imposto, seria conveniente que fosse criado o "DIA NACIONAL DA QUEIMA DO TÍTULO DE ELEITOR" (como sugere Plínio Scarbi). Isto poderia acontecer no último domingo de setembro de 2008, em todos os pontos de aglomeração popular espalhados por todo o território: praias, estádios de futebol, clubes, igrejas, mercados. Claro que é importante trazer a imprensa para documentar o fato e mostrar ao mundo que já estamos cansados de servirmos apenas como bonecos dentro do contexto definido pelas ratazanas das canetas. A idéia está lançada. Só falta encontrar o mecanismo mais adequado para iniciar o processo de divulgação e convencimento de adeptos desta sugestão. Talvez alguns dos sites já empenhados exclusivamente na campanha pelo voto nulo.

Para os que efetivamente precisam apresentar a comprovação de comparecimento à seção eleitoral para efeito de recebimento do salário (ainda que parco), resta a alternativa de usar a carteira de identidade para participar da farsa. Sem esquecer no entanto, de anular o voto, para demonstrar sua insatisfação com o fato de estar presente ao evento por obrigação, não por convicção. Os que inocentemente ainda acreditam que podem mudar o atual cenário através das eleições nos próximos 20 anos, que sigam em paz com a boiada para o confortável matadouro, como os dóceis cordeiros que contamos nas noites de insônia. Depois não terão mais forças saírem da armadilha onde caíram por preguiça em usar pelo menos 10% de sua indignação em prol da cruzada da real independência de nossa pátria.

As elites estão bastante assustadas com a evolução da campanha do voto nulo. A tal ponto que num programa dominical, convidaram um juiz (eleitoral?) para "explicar" que esta nossa atitude de protesto não impedirá que o primeiro colocado no pleito seja empossado. Até pode ser verdade. Mas esta é no momento, nossa forma veemente de protestar contra este sistema nojento que nos guia(?). O apresentador do programa, devidamente "orientado" chegou a sugerir que pela falta de opções, devemos até votar no "menos pior" dos candidatos. Como não nos ofereceu um telefone para contato, não tivemos a oportunidade de perguntar a ele se ele comeria um alimento "menos pior" que fosse encontrado numa padaria ao lado de outros tantos com data vencida!

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