A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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A língua no ralo

(Haroldo P. Barboza)


Se pessoas possuem capacidade para opinar sobre futebol, filmes, gastronomia, trânsito, segurança e tudo mais que afeta nosso cotidiano, como deixar de opinar sobre o básico (política) que rege todos os demais segmentos? E justamente o tema que produz os maiores rombos em nossos orçamentos!

Acontece que explanar a esmo sem precisar "marcar" posição é mais cômodo, não exige a manutenção da opinião e não existe risco de ter de participar de alguma ação coletiva (não precisa ser bélica) em defesa de interesses até de comunidades distantes abaixo do padrão de vida daquele que se nega a "discutir" política.

Desta forma a acomodação é cultivada e disseminada entre os herdeiros. Posteriormente, quando os seus direitos são ameaçados, aquelas outras comunidades (talvez em represália) também não se juntam para apoiar os vizinhos agora prejudicados.

E desta maneira todos se omitem deixando o terreno livre para os criminosos das canetas atuarem na certeza de que não serão incomodados, tendo em vista que seus eleitores (pagadores de seus salários) não praticam com solidariedade e veemência a saudável e regular cobrança de suas decisões.

Com o surgimento de grupos virtuais, num primeiro momento tivemos impressão de que seria possível reunir milhares de pessoas longínquas com problemas comuns para criarmos cruzadas em defesa de nossos direitos feridos. Ledo engano. O espaço é ocupado em 90% do tempo (10% já seria adequado) com assuntos (receitas, vídeos, joguinhos, temas de novela) que poderiam ser tratados com maior ênfase numa reunião festiva após alguma atividade esportiva.

Estamos deixando fluir pelo ralo um dos mais poderosos canais de comunicação (que não sofre censura por parte de donos de jornais) e por onde poderíamos aperfeiçoar nossa mais poderosa arma: A PALAVRA. Que sendo bem pronunciada, entendida e planejada, se transforma num sonho. Que tratado em conjunto com desprendimento, se torna um bem desejado para enriquecimento da vida.

Não custa aqui relembrar minha quadrinha preferida:

As letras são as balas do povo
A palavra, seu grosso canhão
Se atingem a mosca do alvo
Libertam o destino da nação.

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