A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Indolência vaidosa

(Haroldo P. Barboza)


Nos últimos tempos estão sendo planejados postos de coleta de assinaturas para solicitar a retirada de dirigentes do comando dos governos que estão nos colocando dentro de um pantanal de detritos fétidos (que saudades quando era apenas lama). Porém, não basta que cada um de nós assine a lista e pense que cumpriu seu papel cívico e os problemas estarão resolvidos dentro de uma semana. Faz-se necessário manter a pressão contínua, junto aos seus deputados (telefonemas, recados eletrônicos, cartas e telegramas veementes) e às entidades representativas. Aquelas mesmas que ajudaram a afastar Collor para aparecerem na televisão. Não se pode inocentemente imaginar que apenas com a assinatura de 1 ou 2 milhões de eleitores, se alcance o objetivo almejado, pois os partidários deste modelo que nos arranca a dignidade pela força da fome e da submissão, tudo farão para manter esta situação que os enriquece sem esforço. Certamente engavetarão a documentação recebida (mesmo por AR) e obstruirão a pauta (são mestres nisto) de qualquer projeto que tente alterar o formato do sistema que nos conduz atualmente a serviço do chicote dos gananciosos.

É preciso estar atentos diariamente, pois a equipe de abutres é numerosa, organizada e possui diversos elementos aptos e desejosos de assumirem o papel de vendilhões da pátria. De posse do controle da penetrante mídia amestrada, de recursos especiais no campo da maquiagem e de bonitas frases bem decoradas (as usam há mais de 50 anos), preparam outras marionetes fantasiadas de “mocinhos” salvadores da nação. A cada pleito surgem com um novo elemento, com uma nova fantasia mas com as mesmas idéias de nos manter como mera boiada apenas pagando impostos sem mugir.

Não está na hora do povo varrer estes profissionais da política que engavetam as leis de interesses sociais e votar em elementos que jamais exerceram cargos públicos em suas vidas? Um candidato não precisa saber falar 5 línguas para ser bom administrador. Tem de saber escutar o clamor dos necessitados e ter um passado limpo que se possa comprovar. A encenação das trocas de ministérios ou MP’s não resolvem a fome do povo. Apenas saciam a ganância dos parlamentares imorais que não se contentam com a remuneração mensal de 200 salários mínimos (some os proventos + ajuda de moradia + ajuda de combustível + ajuda de correios + jetons de sessões desnecessárias + passagens de avião + metade dos ganhos de 30 assessores) e querem abocanhar altas fatias das verbas destinadas aos projetos dos necessitados.

Não nos basta esbravejar no teclado e assinar manifestos de apoio às cruzadas de desinfecção de nossas câmaras públicas. Este é um primeiro passo que traduz nossa intenção pela causa proposta. Temos de reservar algumas horas por mês para conversar com os vizinhos, colegas de clube, colegas de trabalho, da entidade religiosa e todas as pessoas do relacionamento cotidiano sobre o que se pretende para o futuro deste país. Principalmente com as crianças da família (assim que derem mostra de percepção de nossos problemas), que em breve começarão a conduzir o rumo da nação onde viverão. Acostuma-los a participar de reuniões cívicas de interesse da comunidade e pedindo suas opiniões para desinibi-los.

Claro que para adolescentes cheios de energia em busca de atividades competitivas, ficarem sentados ouvindo discursos “políticos” deve parecer “sacal”. Aí entra a criatividade daqueles que desejam repassar mensagens úteis aos seus herdeiros. Ao programarem um churrasco no play onde se possa reunir entre 10 e 15 jovens, incluam uma “palestra” de 15 minutos de elementos do condomínio ao lado (dá maior respeitabilidade por não ter muita intimidade com as crianças do outro prédio) explanando sobre qualquer área social (saúde, educação, transporte, segurança, comércio, limpeza urbana, etc). Resumindo os problemas, as soluções propostas, a má vontade dos dirigentes da área em questão, as formas de pressionarem pelos direitos em função dos impostos pagos. Conversem com as escolas para que ajam de forma similar em suas festividades tradicionais. Fazer “política” é uma ação cotidiana que praticamos diariamente entre nós de forma honesta(?), ao contrário dos eleitos para legislar, executar e fiscalizar as normas.

Enfim, existem diversas formas de se atrair pessoas para um evento qualquer e encaixar uma breve discussão de interesse geral (nem sempre a “derrubada” do governo). Falta perdermos o receio de tocar em assuntos que “não interessam”. Só com esta prática regular, vamos nos acostumar a trocar idéias de interesse geral e deixar de ficarmos entocados nos lares aguardando a salvação pela chegada do “messias”.

O importante é não permitir que a vaidade e a comodidade aflorem para deitar tudo a perder.

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