A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Democracia informatizada

(Haroldo P. Barboza)


Se você não estiver gostando do filme, sai do cinema antes que a película chegue à metade. Se a comida não está com bom tempero, abandona o prato quase pela metade. Se o programa de tv não lhe agrada, muda de canal ou desliga o aparelho. Se o seu time leva 4 gols ainda no primeiro tempo, sai do estádio antes do início do segundo tempo. Se a empresa que presta manutenção ao seu elevador não age da forma combinada, você rompe o contrato com ela e ainda luta para receber de volta os valores pagos anteriormente. Se o seu funcionário não trabalha com responsabilidade, você o manda embora sem remorso.

Se o político que você ajudou a eleger demonstra ser mau caráter e é envolvido em maracatuaias e desvios de verbas públicas, você não pode livrar-se dele antes do final do mandato. Não tem como recuperar o dinheiro desviado. E ele ainda volta a concorrer ao posto sem cerimônia. E muitas vezes é recolocado no cargo. E mesmo que você vote em alguém em quem acredita, sabe que neste cenário de lama que nos envolve, o sistema corrupto continuará em vigor a todo vapor.

Numa época em que transações bancárias são realizadas pela internet através de senhas individuais, o IR é enviado pela rede e o TSE afirma que o nosso sistema eleitoral é à prova de fraudes (?), podemos convidar estes competentes técnicos a desenvolverem um sistema com as seguintes virtudes que nos permita entre outras:

a) votar sem sair de casa;

b) consultar o BD para lembrarmos em quem votamos nos 4 últimos pleitos;

c) acompanhar as atividades desenvolvidas pelo sujeito que elegemos como nosso procurador;

d) decidir pela continuação do elemento no cargo ou pelo seu expurgo uma vez por ano (um mero referendo).

e) Prever uma tecla: NENHUM DELES – QUERO OUTRA ELEIçÃO.

Votar NULO agora, pela legislação duvidosa em vigor, talvez não impeça termos os mesmos meliantes no poder por mais 4 anos.
Mas por um instante imaginem a seguinte situação glorificante:
100 milhões de eleitores aptos.
99 milhões votando NULO.
501 mil no primeiro colocado.
400 mil no segundo.
99 mil no terceiro.

O primeiro assume. Tudo bem. Mas como se sentirá um elemento estando no comando e sendo rejeitado por 99,49 % dos que estão à sua volta?

Como você se sentiria no comando de um setor com 200 pessoas onde apenas uma ou duas votaram e fizeram você se tornar líder por um descuido de uma norma?

Deixo a palavra com o competente grupo do fórum do voto-e sobre as questões técnicas palpáveis (já que sonhos são para poetas), onde grandes conhecedores de informática e mestres juristas devem levantar os obstáculos para que possamos nos aproximar da proposta efetuada

  • Publicado em: 07/10/2006
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