No início deste século 21, finalmente estamos percebendo que
é inútil tentar acompanhar as centenas de milhares de informações
geradas pelos poderosos e velozes chips que infestam nosso cotidiano. Ao receber
uma notícia em nosso bairro pela manhã, ao repassa-la à
tarde em outro ponto da cidade corremos o risco de sermos rotulados de "arcaicos".
Quando estiver dentro do refúgio do seu chuveiro, tenha consciência
que naquele momento, em diversas partes do mundo, estão estudando e testando
um novo modelo de ducha, um tipo de sabonete que ao cair retorne às suas
mãos e um rolo sanitário que toque um "dingo bell" quando
estiver para acabar o papel.
Para não ficarmos decepcionados com tal situação, tendemos
a nos fechar em torno de assuntos específicos que nos levam à
especialização. E aí surge o segundo fator para nos deprimir,
pois mesmo numa área restrita onde "navegamos" diariamente
com relativa segurança, a evolução ainda é mais
veloz do que podemos absorver. Quando um cirurgião termina a remoção
de um rim de seu paciente, uma nova metodologia para tal pode estar sendo apresentada
em algum congresso mundial. Seu eficaz sistema de entrega de mercadorias por
motoqueiros poderá ser superada por helicópteros dentro de 3 ...
dias!
Isto não quer dizer que devemos nos alienar e deixar tudo para lá
para não ficarmos deprimidos e beirando a insanidade. Claro que temos
de estar atentos a tudo para não ficarmos "excluídos"
profissionalmente e socialmente. Mas o acompanhamento não pode ser possessivo
a ponto de nos roubar tempos que devemos dedicar à família, aos
amigos e a nós mesmos, principalmente. O segredo é a seleção
cuidadosa do que deve ser acompanhado (mantendo distância segura) mais
de perto e qual a prioridade de cada atividade cotidiana. Não existe
fórmula padrão para isto. Apenas o bom senso apurado dentro de
cada um de nós. Ele se aperfeiçoa com a experiência, não
com a acomodação dos preguiçosos que insistem em dizer:
-já estou velho para isto. Este tipo desanimado deve esconder-se
numa ilha e dar lugar a outro mais atrevido para percorrer a trilha!
Assim sendo, devemos nos esforçar ao máximo em busca da felicidade
contínua, pois ela é constituída de diversos "balões"
que enchem, nos encantam e depois vão murchando. Temos de estar diariamente
enchendo "balões" para que a nossa ambiência não
se torne cinza e nos leve a perder a vontade de atuar de forma útil à
comunidade pela qual temos apreço. Se assim agirmos, jamais entraremos
em depressão. Se não pudermos ser úteis tricotando um agasalho
para o frio, podemos separar e distribuir os jornais dos vizinhos da vila às
5 horas, com a vantagem de sermos os primeiros a termos contato com fofocas
editadas pelos periódicos locais!
Não existe fórmula pronta para uma agenda genérica (nem
um remédio que faça bem a todos). Cada um de nós deve distribuir
seu tempo de forma a participar de quase todas as atividades onde haja oportunidade
de exibir suas características positivas (mentais e motoras), que nos
permitem sermos bem aceitos dentro dos grupos com os quais nos relacionamos.
Não devemos aceitar passivamente a convenção imoral (às
vezes pejorativa) que conduz o ser humano acima de 55 anos para a 3a. idade
como se tal estágio fosse um depósito de pessoas inúteis.
Quem tem a mente obscura por tal raciocínio, é membro da categoria
da 4a. idade, que a tudo aceita sem contestar e sem buscar as soluções
viáveis para minimizar ou eliminar o problema da moda. Aqueles que criam
projetos de atividades (com qualquer idade biológica) para tornar sua
estadia plena na Terra, são integrantes destacados da conceituada 5a.
idade. Sua principal característica é não temer (apenas
respeitar) enfrentar desafios. Como mudar trimestralmente a decoração
de seu quarto sem precisar gastar dinheiro. Bastar trocar de lugar objetos leves:
despertador, vaso, quadro, urinol, etc.
Claro que as crianças possuem um maior tempo livre para usar em traquinagens
diversas onde podem esbanjar toda a energia física característica
da idade. Assim como os adolescentes responsáveis que já subtraem
parte deste tempo para destinar espaço aos estudos e preparação
para o agressivo mercado de trabalho. Sem esquecer os amassos com
seu par preferido ao pé da mangueira ou no corredor do ônibus entupido.
E quem já se aposentou e procura atividades de qualidade junto aos antigos
colegas, aos companheiros de clube e vizinhos do condomínio, também
é dado o direito de "brincar" de uma forma mais amena porém
atraente e desafiadora. Quem já passou dos 55 e está aposentado
sem possibilidade de viajar, não precisa ser "condenado" a
ficar vegetando dentro de seu quarto de frente para tv de poucas opções
úteis ou enxugando o mijo do cão sacana no piso da varanda. Até
o último instante de permanência neste plano, temos a missão
de aprender e ensinar entre nossos pares, mesmo que eles torçam por outros
times.
Assim sendo, seja lá em que ordem você defina suas atividades
diárias ou mensais, reserve uma razoável parcela para se divertir
(nem que seja retirando ferrugem da grade do jardim ou contando formigas grávidas).
Se a sua forma de diversão for dentro de um grupo heterogêneo,
ao se reunirem nos convidem também, pois nossa missão é
preencher seu tempo junto aos amigos de forma divertida, segura e muitas vezes
fora do convencional, quebrando paradigmas absurdos inventados para fins comerciais
e políticos para exaurir nossas parcas (e porcas) economias e torrar
nossa paciência, onde tentam nos incutir que a felicidade está
no "ter" em vez do "ser". Com a cumplicidade dos participantes
bem intencionados, certamente criaremos diversas situações de
alegria que nos servirão de para o resto de nossas existências
como belas recordações dentro de nossos corações!
Eu conheço alguns jovens com menos de 18 anos que fazem parte da 5ª.
idade. Outros colegas, acima de 60, demonstram que jamais a alcançarão.
Estão sempre reclamando de uma caneta que cai, do elevador que geme
(pode ser um casal lá dentro) e do passarinho que sujou o teto do carro.
Deveria agradecer à Natureza que ainda existe pássaro no seu bairro,
apesar de toda a degradação em volta. Por que não aproveita
esta energia para relacionar os problemas e reclamar dos que deveriam cuidar
do bom funcionamento da comunidade com qualquer idade?
Você já deve ter percebido que a 5ª. idade não é
um estágio a ser atingido da mesma forma que numa carreira profissional.
Podemos chegar a ela sem passar pela quarta. Se tivermos a felicidade de nascermos
com os neurônios intactos, termos um bom apoio familiar e força
para superar as falsas atrações efêmeras que
surgem em nossos caminhos a todo momento, penetramos neste estágio até
sem perceber. Na verdade, quem mais percebe são aqueles à nossa
volta. Quem mantém o equilíbrio entre a mente e o coração,
tem a alma encharcada de emoção.