A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Quando chegarão os atletas?

(Haroldo P. Barboza)


Nos últimos 40 anos o índice da violência urbana vem crescendo em escala logarítmica em função da incompetência dos governantes de todas as esferas e de todas as siglas partidárias. Jamais desenvolveram uma política preventiva nas áreas de educação, saúde, moradia, transporte e emprego para que a escala de revolta ficasse restrita aos níveis suportáveis e fáceis de serem contornados. Apenas usaram este caos para os frágeis trampolins eleitorais que os eternizam no poder através da crendice popular de que na próxima gestão os problemas serão resolvidos por aqueles que sempre prometem, desviam verbas, compactuam com a corrupção e depois alegam que a culpa foi da administração anterior. Só não lembram que cada um deles já esteve numa destas "anteriores" e nada fizeram para planificar a humanização do centro urbano que dirigiram.

Os conflitos ocorridos em Vila Isabel (RJ) bem perto do antigo jardim zoológico nos meados de outubro de 2009 são de fazer inveja à explosiva faixa de Gaza. Tiroteios durante 12 horas seguidas sobre prédios da região ameaçando milhares de moradores, queima de veículos coletivos, interdição de vias públicas e comércio local e desta vez, para escancarar a fragilidade de nossas desaparelhadas forças policiais, a derrubada de um helicóptero da polícia militar.

Para tentar explicar tal humilhação, as autoridades alegam que a "inteligência"(?) da polícia já estava ciente do confronto que ocorreria entre duas favelas vizinhas. Se mesmo sabendo do fato com antecedência não evitaram as barbaridades acontecidas, acreditamos que se não soubessem, provavelmente bandidos invadiriam a secretária de segurança pública e estabeleceriam o novo escritório dos traficantes que hoje gerenciam a cidade dentro das penitenciárias corrompidas. Estas mesmas autoridades afirmam que os confrontos são "pontuais" e não em toda a cidade.

Concordamos. São pontuais. Em todos os pontos onde a miséria aprisiona os pobres sem oportunidade de uma vida com um mínimo de dignidade e que acabam servindo como massa de manobra de traficantes para criar tumultos que desviam a atenção da tal "inteligência" e são usados como escudos contra as desastradas incursões policiais para capturar os chefes das quadrilhas que foram criados nestes celeiros de pobreza mantidos pelos que desviam as verbas que poderiam acabar com estas fontes.

Nós, moradores reféns dos dois grupos de marginais (armas de fogo nas ruas e canetas assassinas nos gabinetes governamentais) sabemos que a indústria da violência rende R$ MI a centenas de magnatas residentes nas orlas marítimas (as que são exibidas para atrair turistas para nossas cidades) e aos dirigentes coniventes que se locupletam com tal cenário. Não temos mais a quem recorrer. Apenas torcemos para não sermos o próximo assaltado numa esquina qualquer das cidades abandonadas.

Certamente a polícia executará meia dúzia de marginais para oferecer manchetes de jornais e acalmar a opinião pública apavorada até que novos tiroteios infernizem nosso cotidiano já insuportável. Mas a miséria produz meia dúzia destes elementos por dia. É como enxugar gelo. Mesmo uma força policial adequada não tem meios para acompanhar a evolução desenfreada da violência que se banalizou em nossa sociedade acomodada.

A trégua para esta situação está longe. Somente em junho de 2016 as "autoridades" farão um pacto para que a capital da "olim...piada" não seja alvo de ações tão contundentes. Nesta época talvez tenhamos uns 2 meses de calma com a presença da força nacional de segurança que está sendo oferecida pelo Ministro da Justiça.

Isto se algum lúcido dirigente do COI não colocar sob suspeita a "escolha" (voto eletrônico volátil) do Rio como sede da competição. Suspeita maior ainda pelo fato do relatório que enaltecia nossas virtudes não exibir o realismo da favelização que contaminou nossas capitais e que pode sitiar a cidade antes da chegada dos primeiros competidores internacionais.

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