A crise no futebol carioca vem de longe. Porem tornou-se mais evidente a partir
do início do século XXI. Nos últimos oito anos os principais
clubes do RJ terminaram o campeonato brasileiro entre os oito últimos.
E por 3 ou 4 vezes passaram para a 2ª. divisão. Vai longe o tempo
(mais de 40 anos) em que clubes do RJ visitavam o interior do Nordeste para
vencer adversários locais com mais de 3 gols de diferença.
Atualmente estes antigos "fregueses" saem do Maracanã obtendo
empates e vitórias com certa regularidade.
Não existe uma causa única para esta decadência progressiva.
Cada uma contribui com um percentual diferente para este caos. A de maior peso
com certeza reside no corpo gerencial de cada clube. As outras, relataremos
em breve.
Estes dirigentes, além da vaidade elevada que os impede de reconhecerem
seus erros, conduzem as agremiações de forma leviana por terem
certeza da impunidade em vigor em nosso país.
A mesma que acoberta os pilantras do planalto central.
Alguns dirigentes já não se satisfazem mais em receber apenas
10% ou 20% das dezenas de "escolinhas"(?) residentes dentro de seus
clubes e dos contratos terceirizados.
Num pacto macabro e lesivo aos seus clubes, desenvolveram uma "parceria"
não oficial com empresários (atravessadores) de jogadores de futebol.
O esquema funciona mais ou menos da forma resumida abaixo.
Um jovem entre 12 e 15 anos que demonstra grandes habilidades com a bola, é
pressionado (os pais são doutrinados antes) a assinar um contrato de
"gaveta" com o astuto empresário que logo encontra um clube
europeu para vender a "mercadoria".
Hipoteticamente o atleta vale R$ 20 milhões. O clube comprador oferece
7 milhões. O clube carioca aceita este valor por estar cheio de dívidas
com funcionários, fornecedores e tributos legais que não são
cobrados pelas autoridades para não perderem votos. Para iludir a Receita
Federal magicamente surge um recibo de venda de R$ 4 milhões. A diferença
de R$ 3 milhões é rateada entre o empresário e os dirigentes
da equipe. Sobre o valor oficial ainda deduzem 25% a título de comissão
do empresário que concede um "cascalho" aos demais envolvidos
na trama.
O jogador negociado para a Europa passa a ter um salário de 10 a 25 vezes
superior ao recebido (com atraso) no clube que o revelou. Dos 3 ou 4 primeiros
salários do novo contrato, concede perto de 50% aos mentores destas obscuras
negociações.
O que resta para o clube lhe dá um fôlego de 2 ou 3 meses para
amenizar suas dívidas elevadas. Não sobram valores para investimentos
numa estrutura planejada para os próximos 10 anos.
Estes "executivos" também ganham na compra!
Quando o atleta que jogou na Europa por 10 ou 12 anos ultrapassa os 30 anos
de idade, sua performance começa cair. Sua conta bancária está
sólida (se ele teve juízo) e seu entusiasmo está frágil.
Mas ainda é possível arrecadar uns trocados exercendo a profissão
como divertimento. Basta retornar ao Brasil.
O clube europeu que soube auferir lucros mais com a imagem do atleta do que
com seu talento em campo o despacha para o Brasil a preço de "promoção".
Os clubes cariocas falidos e em decadência são os melhores compradores.
Anunciam esta contratação "bomba" como a solução
para elevar o nível do futebol da equipe mal colocada na tabela. E muitas
vezes tais atletas chegam aqui com lesões mal curadas e de demorada recuperação.
Mas o que importa não é sua capacidade em efetuar um lançamento
de bola e sim, seu "lançamento" contábil.
O clube europeu oferece o atleta por R$ 2 milhões. Magicamente surge
um recibo de R$ 5 milhões! O esquema da partilha da diferença
é o mesmo usado na época em que ele tinha menos de 22 anos e foi
enviado para a Europa.
O aumento da dívida do clube com esta operação é
incorporado à "bola de neve" já volumosa. Basta continuar
convencendo as autoridades fiscais que a torcida do clube tem mais de 5 milhões
de eleitores para que a dívida seja "rolada" para os próximos
20 anos.
Devido a tantas "fontes de renda", não ficamos surpreendidos
que na época das eleições dentro destes clubes surjam mais
de seis candidatos "abnegados" que sacrificam a família em
prol do "amor" que sentem pelo escudo que apaixona milhões
de sofredores que apertam o orçamento familiar para adquirir ingressos
para partidas regularmente de baixo nível.
Esta falta de respeito deveria ser penalizada com prisão.
Mas como estes elementos são "amigos" de políticos que
recebem ingressos de camarote e usam as bandeiras destes clubes para obterem
votos, nada é apurado. A CPI da bola (lá se vão mais de
7 anos) terminou em pizza como quase todas.
Pela nossa falta de percepção do quanto somos enganados em todas
as esferas sociais, continuaremos a pagar valores altos por ingressos para assistir
"peladas" pobres em estádios também abandonados (como
o da Fonte Nova que matou oito inocentes numa queda de arquibancada). Ou através
do "pay-per-view" da TV que fatura alto com esta programação
que serve para desviar a atenção do povo para os desmandos governamentais.
Este é um gol contra que marcamos e pela aparência do jogo, será
seguido por diversos outros ao longo de nossa acomodada atitude.