Se conselho fosse bom, não se dava. Vendia-se. Esta afirmação
é mais antiga do que andar para frente.
Esta frase é o argumento que uma pessoa usa para criar um obstáculo
entre ela e um amigo que pretenda lhe passar alguma orientação.
É claro que nem tudo que recebemos de orientação é
a expressão integral da verdade, pois cada fato está sujeito a
muitas variáveis. No entanto não custa nada ouvir, filtrar, experimentar
e adaptar alguns dados que podem ser úteis para uma existência
com menos atribulações. Já bastam as situações
de alta pressão das quais não conseguimos nos livrar, causadas
pela competição agressiva diária e pelos elementos nocivos
reinantes na natureza que agridem nossa sobrevivência por não sabermos
conviver com eles.
O estilo de vida ocidental criou um distanciamento entre gerações
onde o jovem naturalmente impetuoso, se deixa levar pela propaganda que o impele
a tentar realizar o maior número de projetos com pouco planejamento (depois
a gente vê como fica), parcos recursos (depois a gente faz um gatilho)
e em tempo curto (amanhã mesmo já estará dando resultados).
Neste cenário, seus ouvidos se fecham a algumas orientações
que lhes são passadas pelos mais antigos da família. Alegam que
hoje os tempos são outros. Esquecem de um pequeno detalhe: mudaram os
equipamentos e as fórmulas para atender as novas necessidades, mas as
características humanas são as mesmas de 100 séculos atrás
(experiência, preguiça, inveja, inocência, ganância,
pressa, etc).
E esta distância aumenta se o jovem deixa que sua perseverança
ultrapasse os limites e se transforme em teimosia. Vejamos se a diferença
básica pode ser compreendida com os exemplos abaixo.
Perseverança - quando uma pessoa se determina a adquirir um bem
ou realizar um projeto, mesmo que seja algo inédito, ela terá
como base estudos e práticas anteriores de outros que já fizeram
algo igual ou bem parecido (se tiverem falhado, darão maiores subsídios).
A perseverança não permite que ela desista de seu objetivo mesmo
que um acidente de percurso ocorra. Se uma prateleira fixada na parede desaba
por ter uma sustentação fraca para o peso mal calculado depositado
sobre ela, o perseverante não se abate. Refaz a parede lascada, monta
uma sustentação cinco vezes mais forte e realiza seu projeto.
Se no ato não tiver meios para trocar a sustentação, coloca
um aviso provisório alertando sobre o máximo de carga que a prateleira
pode suportar no momento. E desta forma age para construir suas "estantes"
para guardar seus "tesouros" de vida. E com o tempo atinge seu projeto
com sucesso. E sente orgulho por ter superado os obstáculos paulatinamente
com equilíbrio.
Teimosia - quando uma pessoa esclarecida coloca sua vida ou saúde
em risco apesar de todos os alertas recebidos, demonstra uma falsa atitude de
personalidade forte, que "não se deixa influenciar por opiniões
alheias". Não é vergonha declarar que apesar de tantos anos
de vida aprendeu algo novo, até mesmo com alguém mais jovem. Um
menino que trabalhou no campo dos 6 aos 20 anos, certamente terá boas
condições de orientar um técnico em agropecuária
que obteve um diploma na cidade aos 25 anos. Se uma pessoa fuma e alega que
o tio morreu aos 90 anos fumando dois maços por dia, usa um argumento
frágil, pois desconhece os prazeres perdidos pelo tio, as doenças
que ele adquiriu, as dores que sentiu, os gastos que teve com médicos
e remédios. Não há uma planilha arquivada sobre a qualidade
de vida deste tio para ser consultada. E assim o teimoso segue impávido
e de nariz empinado condenando seu pulmão (e outros órgãos)
à falência em vida.
Carregar peso desnecessário quando nossas forças estão
no auge, terão reflexos dolorosos na coluna depois dos quarenta anos,
quando o esqueleto começa inclinar.
Escrever sobre dezenas de páginas com lápis (para ler depois é
pior ainda) à noite provocará reflexos irrecuperáveis nos
olhos depois dos quarenta anos.
Dormir diariamente menos de 4 horas certamente afeta os reflexos (por isto motoristas
batem nas estradas e operários perdem dedos na indústria), reduz
a memória, retarda o raciocínio. Isto ocorre em qualquer idade.
Os deslumbramentos com o namoro (principalmente sendo o primeiro) nos conduzem
a atitudes desaconselháveis, quase irracionais. Quando dois namorados
deixam de se ver por 3 meses, é possível entender uma conversa
telefônica semanal de 90 minutos para colocar as novidades em dia. Quando
se encontram 2 vezes por semana, 10 ou 15 minutos não bastam?
Numa semana de provas ou de trabalhos delicados na firma, estes encontros semanais
devem ser reduzidos (não chegamos a sugerir suprimidos) de 6 para 2 horas.
Tal atitude não deve ser encarada como sacrifício. É um
investimento para que num futuro não distante sejam criadas condições
para que os encontros passem a ser mais freqüentes e em maior tempo.
Neste texto, não existe fórmula mágica. E estas palavras
não estão editadas aqui com o objetivo de suprimir liberdades,
desvalorizar ações próprias, revelar a verdade total nem
de forçar condutas. São meros relatos sinceros de quem já
passou por algo similar (até absorveu e aplicou algumas das dicas recebidas).
Certamente centenas de milhões de pessoas disseram isto nos últimos
77 séculos e alguns milhões dizem hoje pelo mundo a cada minuto.
Resta saber pelo menos quantos escutam e compreendem.
Se desejam experimentar em suas próprias vidas é outra questão.