A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Ídolos que merecemos

(Haroldo P. Barboza)


Um país evoluído, de uma forma geral possui alguns ícones espalhados por todas as suas áreas sociais e que de algum modo contribuíram com altos percentuais para a melhora da qualidade e estima do povo, bem como a elevação do conceito e respeito da nação no cenário internacional. Este povo comemora as datas de nascimento ou morte de tais ícones, visitam e preservam seus bustos espalhados pelo território onde nasceram enaltecendo suas contribuições em prol da qualidade de vida da comunidade.

No Brasil, pela falta de tais figuras e pelo baixo nível cultural e educacional alimentado pela elite do poder, ficam reservados apenas alguns atletas esportivos, sendo que 90% pertencem ao futebol. Figuras como Éder Jofre (box), Maria Ester (tênis), Mequinho (xadrez), Guga (tênis) e atletas para-olímpicos apesar de seus heróicos esforços não conseguem criar uma esteira de seguidores para criar exemplos e gerar novas oportunidades aos nossos jovens dispersos e desencontrados.

Desta forma chegamos a uma situação que quase se transforma num feriado em São Paulo. O clube Corinthians contratou Ronaldo "gordinho" no final de 2008. Tal fato criou um histerismo entre os torcedores desta gloriosa bandeira e as camisas com o nome do ex-"fenômeno" vendeu milhares de unidades em dois ou três dias de comercialização, fazendo a alegria da empresa que o patrocina. E o auge desta festa culminou numa sexta-feira de dezembro, quando foi marcada uma aparição do atleta nas dependências do clube para aquele discurso padrão, onde o focado promete "muito esforço para ajudar a equipe em novas conquistas". Não podemos culpá-lo por reproduzir o que o roteiro define. Por U$ 500 mil mensais, qualquer um de nós faria o mesmo discurso.

O que surpreende (nem tanto no atual cenário degradado de nossa pátria) é saber que tal evento estava marcado para 11 horas da manhã e ao alvorecer do tal dia, mais de 6.000 pessoas já se acotovelavam às portas do clube para poder ouvir o cultural pronunciamento, cuja "importância" foi enaltecida durante a semana pela mídia desabituada de cumprir seu real papel de fiscalização e cobrança de ações públicas de interesse geral da nação e de denúncias contra atos lesivos aos cofres da nação.

Por volta de 10:30 o local fervia com quase 20.000 expectadores amontoados em situação desconfortável, sob sol, chuva, sem sanitários, em pé.

Resta saber se a QUARTA parte de tal grupo estaria disposta a comparecer às escadarias das câmaras de legisladores para exigir que os malandros que recebem 15 salários anuais e trabalham(?) duas vezes por semana votassem medidas de interesse da coletividade. Ou para sentar nos degraus dos suntuosos palácios da Justiça(?) para cobrar processos que se arrastam por 15 ou 20 anos quando são do interesse dos menos afortunados.

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