A maioria dos brasileiros não tem por hábito se prevenir. Uma
enorme parcela vai ao dentista quando o dente já está condenado
(esquece que a manutenção é mais barata do que um tratamento
longo). Comparece à oficina mecânica depois que a bateria, radiador,
lonas de freios, amortecedores, velas estão estragadas por falta de acompanhamento.
Só prepara a declaração do IR no último dia. Só
reclama do governo, depois que o colocou no posto de comando, quando a quadrilha
montou os esquemas de desvios de verbas e abriu contas no exterior. Lembremos
de alguns fatos recentes que já caíram no esquecimento. Poderão
voltar à tona quando a titica estiver boiando a um palmo de nossos narizes.
O emissário de Ipanema (no Rio) só foi tratado depois de espalhar
titica pelas praias da cidade. As autoridades afirmaram que após o despejo
de toneladas de adubo humano no trecho afetado, o banho estava liberado para
a população uma semana depois do reparo do vazamento. Mas os familiares
destes "gênios" não trocam suas piscinas por estas praias
suspeitas durante longos meses.
Sérgio Naia construiu prédios com areia e cola. Foram liberados
sem vistoria adequada. Além das oito mortes, dezenas de famílias
foram prejudicas e ainda não indenizadas. O vilão continua alegre
com sua vida de nababo às custas do sofrimento alheio. Nenhuma medida
efetiva foi adotada para impedir que fatos similares possam ocorrer daqui para
frente. Depois do afundamento do Bateau Mouche, dezenas de outros barcos já
submergiram. Como não havia personalidades no seu interior, não
saíram nem nas páginas de classificados.
As grandes cidades enchem quando as chuvas com uma hora de duração
se apresentam. Os prefeitos discursam dentro dos helicópteros (com cinegrafista
ao lado, é claro) e prometem obras e campanhas educativas para solucionar
este caos. Tão logo o período chuvoso termina, o assunto é
"esquecido" e eles torcem para que no próximo período
a intensidade de água seja menor.
Remédios falsos em larga escala foram descobertos há alguns
meses, depois que dezenas de doentes morreram e outros pioraram seu estado de
saúde. Fizeram uma encenação de 15 dias e prenderam meia
dúzia de empregados de ferro-velho. Mas não chegaram à
origem do problema, pois talvez lá esteja uma parte do patrocínio de campanhas eleitorais. São todos amigos
dos "frascos e comprimidos".
Os planos de saúde montaram o cartel da indústria da morte.
Aumentam as mensalidades conforme seus interesses. Quem apresentar doença
mas estiver um dia em atraso com o saudável plano, que seja retirado
do estabelecimento que deveria lhe prestar auxílio. As funerárias
possuem agentes dentro dos hospitais, disfarçados de enfermeiros, que
aplicam injeções letais nos doentes abandonados para faturarem
com a venda de caixões e usarem as identidades dos falecidos para abrirem
contas bancárias para lavar dinheiro sujo.
A privatização das rodovias prometia estradas bem asfaltadas,
sinalizadas, iluminadas e aparelhadas para nos permitir viagens tranqüilas.
As melhorias não acompanharam a alta velocidade dos reajustes autorizados
dos pedágios.
A privatização das companhias de energia foi anunciada como
a fórmula mágica para atender a demanda da necessidade energética
do país no sentido de permitir o crescimento de seu parque industrial
e da prestação de serviços. Os apagões ocorridos
e os previstos para breve refletem a falta de luz nas cabeças dos defensores
desta tese. Depois do fracasso do programa do álcool para veículos,
agora apareceram com o GNV como sendo a salvação para nossa economia
motorizada. E depois que milhares aderiram ao processo - o custo da conversão
não é pequeno - acenam com a real possibilidade do programa não
ter estrutura para um aumento anual da demanda em torno de 20%! Mais um engodo
que os motoristas esperançosos terão arcar com os prejuízos.
E agora, mais recentemente, a telefonia privatizada, tão decantada
como a maravilha da independência da comunicação da população,
demonstrou seu verdadeiro interesse no assunto : apenas lucrar. Pouco importa
o prejuízo do povo, que não tem opção de escolha.
A macarronada eletrônica na rede de comunicação durante
o uso contínuo de "modernos" sistemas (deve ser refugo obsoleto
de 20 anos, que já não serve mais aos estrangeiros e fazem daqui,
a lata de lixo de seus países) nos fornece linhas ocupadas e números
trocados a cada 5 tentativas. Bem como cartões de recarga que anunciam
expiração de validade em tempo pequeno para obrigar o consumidor
a telefonar a esmo para gastar seus créditos.
Quando o Rio possuía uns 500 menores abandonados pelas ruas, surgiram
diversas ONGs dando-lhes sopinha e um par de sandálias enquanto o poder
público fazia vista grossa em troca dos votos. Depois que eles se tornaram
malfeitores e procriaram uma legião 10 vezes maior de futuros desajustados,
os administradores não possuem mais pulso para comandar a segurança
pública. E as ONGs se multiplicaram a ponto de termos quase que uma por
cada menor abandonado na cidade. É claro que não desejam solucionar
o problema para manterem a fonte de renda vitalícia.
Quando é que vamos tomar consciência de que precisamos canalizar
nossas forças apenas na direção de exigir a prevenção
lógica e o uso correto de nosso dinheiro? Devemos abandonar este comportamento
de concordar na emoção para depois desperdiçarmos recursos
para corrigir o mal feito e previsto. Pior: usando idéias dos mesmos
que criaram os problemas para a sociedade! O mesmo entusiasmo e espírito
de solidariedade usado para pintar ruas na época da copa mundial de futebol
poderiam ser aplicados (até metade bastaria) no sentido de criar movimentos
regulares com o objetivo de exigir seriedade e honestidade das raposas do poder
público.
O custo para iniciar a correção em todos os segmentos da sociedade
aturdida e acomodada, é um investimento que vale a pena, pois garante
a tranqüilidade de nossos herdeiros para um crescimento gradual, planejado
e tranqüilo. E não chega a ser caro. Deve girar em torno de 10%
do nosso PIB. Para obter tais recursos não é preciso criar novos
impostos. Basta recuperar metade dos valores que são desviados pelas
ratazanas que estão encasteladas no poder. E ratos não podem ser
combatidos com flores. Chumbinhos neles!
Nós podemos fazer a diferença na verdade do futuro.