A maioria dos brasileiros, possui o mau hábito de não participar,
delegar poderes, reclamar sem base e gastar muito para corrigir problemas que
poderiam ter sido resolvidos há mais tempo a um custo 20 vezes menor.
A qualidade de dirigentes que conduzem nossa nação nos dá
a certeza desta nossa prática inadequada. Votamos em qualquer um (ou
a urna eletrônica vota por nós?), esquecemos os nomes dos sujeitos
e os deixamos agir impunemente sem lhes cobrar as ações devidas,
relativas às promessas feitas durante a campanha. Posteriormente ele
alega que não foi bem aquilo que quis dizer (apesar da imagem gravada)
e que surgiram novos fatos que impedem o desenvolvimento do programa prometido.
Na verdade apareceram mais sócios de goelas abertas para receberem uma
gorda fatia do bolo patrocinado pela "viúva". Antigamente era
chamado de suborno, propina ou comissão. Hoje evoluiu para "mensalão".
Quando observamos a rua com ralos entupidos, esbravejamos contra a Prefeitura
que não recolhe aquele material que nos incomoda. Mas esquecemos que
jogamos garrafas plásticas, latas de alumínio, papéis de
sorvetes, sacos de biscoitos e outros detritos pelas janelas dos carros. Estes
exemplos são seguidos pelos de menor posse, que jogam cadeiras capengas,
baldes furados, colchões retalhados e similares. Dá para concluir
que a Prefeitura precisaria de uns 100.000 garis para enfrentar uma população
de mais de 12 milhões de "colaboradores"!
Num cenário em que o primeiro escalão se aproveita de imunidades
para desviar verbas sociais para salvar entidades financeiras dos poderosos
amigos enquanto o povo se distrai com novelas sem mensagens de valor familiar,
a tendência é piorar o quadro de miséria e desespero entre
os excluídos que nos cercam. Que o caldeirão vai explodir, ninguém
tem dúvida. As apostas giram em torno do tempo. Pode demorar de 5 a 20
anos. Depende da criatividade dos aproveitadores em hipnotizar a população,
fazendo-a acreditar que tudo vai melhorar a partir da próxima eleição
(a seca do Nordeste já serve de trampolim eleitoral há mais de
70 anos, consumindo verbas que são aplicadas nos grandes latifúndios).
Até lá, o índice de violência que nos cerca, tende
a aumentar. Iludem-se aqueles que acreditam que estão a salvo com a fixação
de grades em torno dos prédios, colocação de câmeras
nos corredores, alarmes nas portas e roletas de controle de trânsito de
transeuntes dentro dos limites de cada condomínio. Os amigos do alheio
estão sem trabalho. Possuem todo o tempo necessário para estudar
os sistemas e encontrar as brechas necessárias para atingir seus objetivos.
Conseguem obter armas e fardas dentro das corporações militares
combalidas e constituídas de elementos que já não distinguem
a dignidade de suas posições dentro da sociedade surda. A falta
de pulso das autoridades em cuidar destes problemas, facilita esta ação.
Ainda mais quando algumas "autoridades" estão interessadas
na manutenção do caos, para comercializar as "soluções".
Como reverter este quadro num curto espaço de tempo (otimistamente, entre
20 e 80 anos) ? Começando a exercitar a cidadania desde agora, pelo menos
umas duas vezes por mês (uma hora cada). Nas reuniões de condomínio,
um dos itens obrigatórios deveria ser o debate político (não
ficar elogiando ou difamando a vida particular do candidato A ou B - muitos
se popularizam por terem uma estampa agradável), no sentido de estabelecer
formas de criar mecanismos de pressão nas cobranças das contas
manipuladas e no retorno dos benefícios relativos aos impostos recolhidos
antecipadamente. O resultado de cada núcleo, se praticado entre os prédios
vizinhos (sendo bom, não é vergonha copiar), começará
a disseminar uma nova mentalidade entre os participantes. Seria conveniente
a presença de jovens a partir de 12/14 anos, no intuito de manter o diálogo
em bom nível e para que eles aprendam a se conduzir numa discussão
coletiva relatando sua visão do futuro. A escola se complementa em casa
e na comunidade. Inclusive os adolescentes, também devem ser ouvidos
sobre as normas a serem definidas quanto ao uso e horários das áreas
de recreação. É um exercício saudável, que
unirá mais as famílias, os vizinhos e o bairro. Fica mais fácil
agregar pessoas com este comportamento, para uma luta constante no sentido de
obtermos o cumprimento das promessas feitas pelos eleitos antes do pleito. Serão
milhares de fiscais atentos no encalço do seu representante público.
Precisamos acabar com esta herança de que o nosso povo esquece tudo com
facilidade, que dá aos governantes, a sensação de que são
os gênios que nos tomam impostos, manipulam as verbas da forma que lhes
interessa e nos prestam contas com declarações de renda fantasiosas,
que não passariam nem numa "malha grossa" de qualquer país
satélite do 3º mundo.