Interessante como nós seres humanos facilmente rotulamos as pessoas e vamos
absorvendo estas idéias plantadas, que sem nos darmos conta, passamos a
acreditar como uma verdade secularizada...
Vejam só que situação se criou por conta disso.
Conheci um gaúcho, que veio para São Paulo, do interior do Rio Grande
do Sul, com o objetivo de estudar. Esta fazendo o mestrado na PUC.
Pessoa extremamente simpática, inteligente, com um humor refinado, aplicado
em seus estudos, enfim, excelente colega de turma e um amigo generoso.
Desde o inicio foi conquistando o respeito dos colegas por sua conduta sempre
elegante, pelos valores que norteiam seu proceder e pela simpatia com que se relaciona
com todos.
Não se passou muito tempo para que, estando entrosado o grupo, cada um
se sentisse à vontade para brincar e fazer comentários brincalhões
entre os colegas...
Seu jeito gaúcho, misto de recatado e espirituoso, sagaz e inocente, foi
se firmando no grupo onde sua fama de gaúcho genuíno foi se estabelecendo.
Outro dia, estava ele com os lábios rachados pelo frio, tendo algum problema
alérgico, causado provavelmente pela poluição do ar de São
Paulo, quando uma das colegas, muito solicita alertou-o para que cuidasse dos
lábios. Recomendou manteiga de cacau, e para acudi-lo emergencialmente
ofereceu um batom, pontuando que era incolor, apenas para ajudar.
Meio desconfiado, o gaúcho, sempre preocupado em manter a salvo a imagem
de sua masculinidade, relutou em aceitar a ajuda, e só o fez, por estar
realmente incomodado com a tal da alergia.
A aula prosseguia normalmente ate que uma outra colega precisou pedir emprestado
algo a ele. Ao olhar para traz, arregalou os olhos e não verbalizou seu
pedido. Tornou a olhar para frente, respirou fundo, olhou novamente para o colega...
e voltando-se para frente, ficou sem saber o que pensar. Seu colega, tão
distinto e elegante, estava com os lábios pintados de rosa cintilante!
Nem ousou falar com ele neste momento, receosa de ofende-lo, pois não conseguia
segurar o acesso de riso que a assaltava.
Após o término da aula, todos se levantaram e o pobre colega voltou-se
para as duas amigas, a que havia lhe prestado socorro e a que havia olhado por
duas vezes para ele sem nada dizer...
Meninas, disse o pobre moço, alguma coisa esta errada... Todos durante
a aula não paravam de cochichar e olhar-me de esguelha, tchê... que
coisa mais sem jeito é essa!
As duas ao ouvirem o comentário do colega, entenderam a situação.
O batom que oferecera ao colega havia sido trocado por engano e ao invés
de dar-lhe o incolor, havia dado um cor de rosa!
Antes que pudesse explicar o que havia acontecido, um dos colegas, muito gozador,
aproxima-se e diz seriamente:
Meu amigo gaúcho! Para que se cure de vez desta alergia, coloque um brinquinho
na orelha direita, e jamais sofrerá de alergia alguma...
Dizendo isso saiu da sala rindo juntamente com outros colegas...
Só então a vitima parece ter se apercebido de que alguma coisa estranha
estava realmente acontecendo. Incontinenti tomou sua mala, praticamente um frigobar,
com repartições de uma loja de conveniência, tal a fartura
de utilidades que lá se encontra; e pegou um espelhinho... Hum! Por sinal
muito jeitoso, com cabinho trabalhado e bem delicado...
Ao se ver no espelho, de lábios rosados brilhantes, entendeu o que se passara
durante a aula e a saída do colega, tão prestativo.
'
Indignado aprumou-se, e saiu fez da sala resmungando a quem pudesse ouvir.
Sou gaúcho tchê!...Macho do Rio Grande do Sul!
E nesta hora, a turma escutando tão sentido comentário, parou no
corredor e deu uma salva de palmas ao ilustre gaúcho indignado!