A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Amigo gaúcho... Tchê!

(Priscila de Loureiro Coelho)

Interessante como nós seres humanos facilmente rotulamos as pessoas e vamos absorvendo estas idéias plantadas, que sem nos darmos conta, passamos a acreditar como uma verdade secularizada...

Vejam só que situação se criou por conta disso.

Conheci um gaúcho, que veio para São Paulo, do interior do Rio Grande do Sul, com o objetivo de estudar. Esta fazendo o mestrado na PUC.

Pessoa extremamente simpática, inteligente, com um humor refinado, aplicado em seus estudos, enfim, excelente colega de turma e um amigo generoso.

Desde o inicio foi conquistando o respeito dos colegas por sua conduta sempre elegante, pelos valores que norteiam seu proceder e pela simpatia com que se relaciona com todos.

Não se passou muito tempo para que, estando entrosado o grupo, cada um se sentisse à vontade para brincar e fazer comentários brincalhões entre os colegas...

Seu jeito gaúcho, misto de recatado e espirituoso, sagaz e inocente, foi se firmando no grupo onde sua fama de gaúcho genuíno foi se estabelecendo.

Outro dia, estava ele com os lábios rachados pelo frio, tendo algum problema alérgico, causado provavelmente pela poluição do ar de São Paulo, quando uma das colegas, muito solicita alertou-o para que cuidasse dos lábios. Recomendou manteiga de cacau, e para acudi-lo emergencialmente ofereceu um batom, pontuando que era incolor, apenas para ajudar.

Meio desconfiado, o gaúcho, sempre preocupado em manter a salvo a imagem de sua masculinidade, relutou em aceitar a ajuda, e só o fez, por estar realmente incomodado com a tal da alergia.

A aula prosseguia normalmente ate que uma outra colega precisou pedir emprestado algo a ele. Ao olhar para traz, arregalou os olhos e não verbalizou seu pedido. Tornou a olhar para frente, respirou fundo, olhou novamente para o colega... e voltando-se para frente, ficou sem saber o que pensar. Seu colega, tão distinto e elegante, estava com os lábios pintados de rosa cintilante!

Nem ousou falar com ele neste momento, receosa de ofende-lo, pois não conseguia segurar o acesso de riso que a assaltava.

Após o término da aula, todos se levantaram e o pobre colega voltou-se para as duas amigas, a que havia lhe prestado socorro e a que havia olhado por duas vezes para ele sem nada dizer...

Meninas, disse o pobre moço, alguma coisa esta errada... Todos durante a aula não paravam de cochichar e olhar-me de esguelha, tchê... que coisa mais sem jeito é essa!

As duas ao ouvirem o comentário do colega, entenderam a situação.

O batom que oferecera ao colega havia sido trocado por engano e ao invés de dar-lhe o incolor, havia dado um cor de rosa!

Antes que pudesse explicar o que havia acontecido, um dos colegas, muito gozador, aproxima-se e diz seriamente:

Meu amigo gaúcho! Para que se cure de vez desta alergia, coloque um brinquinho na orelha direita, e jamais sofrerá de alergia alguma...

Dizendo isso saiu da sala rindo juntamente com outros colegas...

Só então a vitima parece ter se apercebido de que alguma coisa estranha estava realmente acontecendo. Incontinenti tomou sua mala, praticamente um frigobar, com repartições de uma loja de conveniência, tal a fartura de utilidades que lá se encontra; e pegou um espelhinho... Hum! Por sinal muito jeitoso, com cabinho trabalhado e bem delicado...

Ao se ver no espelho, de lábios rosados brilhantes, entendeu o que se passara durante a aula e a saída do colega, tão prestativo.

' Indignado aprumou-se, e saiu fez da sala resmungando a quem pudesse ouvir.

Sou gaúcho tchê!...Macho do Rio Grande do Sul!

E nesta hora, a turma escutando tão sentido comentário, parou no corredor e deu uma salva de palmas ao ilustre gaúcho indignado!

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