A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O velho nu de macacas grisalhas

(Celso Manhiça)

A possuída tinha um marido espiritual. Todas as noites ela sonhava com um velho nu de macacas grisalhas a perseguir-lhe na machamba. Ela corria como uma louca mas parecia não sair do mesmo lugar. Por fim, tropeçava e se esborrachava no estrume. Então, o velho nu de macacas grisalhas ia por cima dela e possuía-lhe com sofreguidão. De manhã, ela acordava com muitas dores no sexo, a calcinha nos joelhos e uma deprimente vontade de morrer. A possuída era virgem aos vinte e sete anos! Todas as noites tinha sexo no outro mundo mas esse não entra nas contas. O marido espiritual punia, sem dó, àqueles se aproximavam do sexo dela. Os atrevidos que a tentaram penetrar, são hoje eunucos. Os chupadores que lhe fizeram sexo oral, têm a boca podre, cheia de feridas. Os que não sabiam ficaram avisados. Nenhum homem deste mundo tinha mbolo para enfrentar o velho nu de macacas grisalhas. A possuída perdeu o gosto pela vida; aliás, nunca o teve. Sentia-se um óvulo não fecundado; um esboço de fêmea, sem um lugar ao sol deste planeta. O bilhete de suicídio dizia apenas:

Sinto-me suja ... violada ... Estou morta... sempre estive...

A viagem foi longa e cansativa. Havia um extenso engarrafamento na estrada que liga a terra ao inferno do diabo. Milhares de machimbombos fretados por Satanás, a caminho do buraco de lava, com pecadores lá dentro. Mas quando ela chegou ao destino, havia um ansioso homem nu, de sexo levantado, esperando por ela na machamba; era o homem dos seus sonhos: o velho nu de macacas grisalhas. O ancião recebeu-lhe com o sexo. Despiu-lhe lentamente, deitou-lhe no solo húmido e possuiu-lhe, devagarinho, como se o fizesse pela primeira vez.

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