A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O Coito Infiel das Viúvas - Parte 3

(Celso Manhiça

Sou um homem rude e de poucas falas. Não faço sexo com meias. Faço-o descalço, nu. E depois do sexo, ficamos a cheirar à esturro. Eu e elas. E quando nos cruzamos na rua, não lhes passo cavaco!

Se eu fosse gente, mexia os cordelinhos para que todas as fêmeas desta terra tivessem um macho dentro de casa. É que às vezes faz-me espécie ser gigolo, ter um "pau" para toda a obra. Ter viúvas gordas e sedentas de sexo a querer meter a minha "piroca" dentro do saco, a qualquer custo. P'ra elas é monte Binga . Para mim, é como fazer sexo com uma pistola apontada à cabeça!

Uma senhora do alto-maé , mulata, a roçar a menopausa dos quarenta e nove; peguei-lhe, à justa, pelas carnes e apresentei-lhe o gordinho. Ela simpatizou logo com o moço. Pegou nele e começou a fazer-lhe festinhas. Parecia uma gata a brincar com a sua vítima já morta. Entre o gordinho e a parede, ela escolheu o gordinho. Quando meti a carne no assador, os lábios dela ficaram brancos, gelados de prazer, a boca na nuca e os olhos comendo a cara. Pinocar com uma gorda, é a mesma coisa que fazer um "test-drive" a um comboio.

No fim da viagem, ela deu-me o "sine qua non" em notas de cem, duzentos e quinhentos; tudo junto! É sempre assim: recebo cash e não pago impostos. Quando já ia pôr o pé na estrada, a mulata começou a ter mais olhos que barriga: apanhou-me nas curvas e disse que queria ficar amigada comigo. Era só o que faltava: o "gordinho sem prepúcio" a dar farelo às galinhas e a ir ao poço buscar água.

Fui taxativo e redondo na resposta: NÃO! Ela passou-se! Abriu a gaveta da cómoda, puxou a "Glock" do marido e apontou-me o "xibamo" na cara, trémula. Uma mulher rejeitada é pior que um cinzentinho ; nem vale apena pôr a língua na pilha dela. Continuei sereno, imperturbável. Mesmo diante da morte, um homem não deve perder o respeito por sí próprio. Temos que justificar, sempre, o dom que carregamos no meio das pernas. Por fim, baixou a arma, aos prantos. Quando eu ia a sair ouvi-lhe berrar: Se te apanho na rua, encosto-te o carro! Psst... mandei-lhe para "aquele" buraco.

Nunca fiquei amigado com uma cliente. Jamais! Ainda por cima uma que tinha um corpo que o cérebro não reconhecia... Nem sonhar! Desde que comecei a dormir com esta vida, nunca andei à mingua de mulheres. Já viram aquela bicha do BIM ? A lista do "Gordinho sem prepúcio" é igual: dá volta ao quarteirão. Só consigo dar vazão a trinta pedidos por mês. Mas se eu não tivesse escrúpulos, se andasse a despachar o serviço em quinze minutos, como fazem os outros, podia triplicar a cifra. Eu não fui um gigolo qualquer. Sou feito de outro material: tecnologia de ponta com um "quê" de rudimentar.

Nunca vendi o "Gordinho" a homens nem a bórdeis. Da única vez que pisei um bordél, foi para dormir com a proprietária, uma branquinha que estava há canelas sem o calafrio de um homem dentro dela. Foi à bruta! Não lhe vendi só o sexo. Vendi-lhe também a alma, dois ao preço de um. Os aborígenes é que têm razão: um homem é que dorme com uma mulher. Não é uma mulher que dorme com um homem.

Fui um homem de vida fácil. Até ao dia em que... uma preta com cara de santa, linda como dois seios virgens, apontou-me o feitiço e atirou a matar. Nunca fui de "paixonetas". Mas dessa vez foram duas curandeiras a cozinhar o feitiço; uma da Catembe e outra de Mambone . Foi a morte do artista!

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