A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Um bacanal na Malhangalene - Parte 2
Parte 1

(Celso Manhiça)

Serviram-nos um coquetel feito à base de fruto de embondeiro, umas pedrinhas de gelo e dois mindinhos de whisky velho. Vinha mesmo a calhar! Estava a tocar uma música esquisita nas colunas, música para fazer ioga, tailandesa ou coisa parecida. Alguém lembrou-se de queimar bosta de cavalo no meio da sala. Em pouco tempo, o fumo proibido tomou conta das nossas almas.

Antes de apagarem as luzes da sala, uma baixinha de trintona apalpou-me o rabo. Virei! Ela lançou-me um olhar de fêmea molhada, a morder o lábio inferior como se quisesse me devorar frito em azeite, com umas pitadas de sal e folhinhas de alface. Tropecei e fui cair no goto dela. Sabes, a melhor coisa desta vida são as baixinhas; bem doces. Mais do que as altas.

Estávamos às escuras. Trinta cegos no meio de um tiroteio. Havia uma luz fraca que vinha da cozinha; dava para ver alguma coisa. Nenhum homem podia agarrar outro homem com o pretexto da escuridão. Mesmo assim, era preciso andar às apalpadelas para não cair no buraco errado.

A baixinha de trintona que estava comigo, já queria entregar o ouro ao bandido (eu!). Apertou o sexo com as coxas e começou a sussurrar obscenidades no meu ouvido. Eu comecei a sentir o "Tito Paris" a esticar as cordas da viola. O "Tito" é assim mesmo; caladinho antes de subir ao palco. Mas quando começa a música...é um vê-la se te avias! Levantei-me. A baixinha apalpou o terreno, desmontou a minha tenda e engoliu o sapo gordo. É o que elas mais gostam de fazer, as baixinhas: engolir sapos.

A Sinfonia do amor. Sussurros. Palavrões. Alguns gritos de mulher engasgada. Homens grandes a ir e vir. A dona da casa ensanduichada por dois matulões musculados a ferro. O amigo mulato do Nandinho a mamar nas tetas de uma vaca. Como é que aquela vaca foi ali parar? As mulatas do Bagamoyo a darem-se entre elas. Uma com a cara no meio das coxas da outra. Foi a primeira vez que vi aquele pecado. Um tipo grande, segurança de discoteca, com o instrumento na mão, sem rede . Eu, dentro da baixinha. Ela, relaxada, como se não tivesse nada dentro.

Mudei de coito. Fui ao coito da única comestível das do Bagamoyo. Confirmei a minha tese sobre as mulatas. Ninfomaníacas dum raio. Também... começam cedo. Não existe em Maputo mulata de 15 anos que seja virgem. Chegam aos 21 e só conseguem atingir o clímax com 4 homens nus em cima.

Sexo livre, sem preconceito, sem tabu. Sou pai de duas crianças, já fui a cama com maningue mulheres nesta vida, mas só naquela noite é que perdi a virgindade. Eu era virgem e não sabia. Quem nunca chupou as maminhas de um bacanal é virgem! Um velhote com dez filhos que se orgulha de ser muito macho. Coitado, não sabe que é virgem. Muito virgem, com borbulhas a espumar na cara e tudo isso. O bacanal é o Everest do sexo. O Everest. Cortem os pulsos se chegarem aos 35 sem pisar um bacanal.

De manhã cedinho, procurei as minhas calças no meio dos cadáveres aniquilados pelo prazer sublime. Encontrei-as. Meti a mão no bolso de trás: a caixinha de preservativos estava intacta. Merda! Grande Merda!

Que se lixe! Valeu a pena. Vou mais é para casa. Estou a precisar de um banho!

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente