A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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A cela dos sodomitas e o Cabaré de Striptease
- Estudo comparativo -

(Celso Manhiça

A cela dos sodomitas é pior que o inferno do diabo; pior que a cela do recluso canibal; pior que mil facadas com djungwa. O infeliz que fosse empurrado para a cela dos sodomitas a noitinha, na manhã do dia seguinte saía de lá desparafusado da vida, cheio de chupões e sem cuecas, com as nádegas em carne viva, como se tivesse estado toda a noite, a fazer sexo com a biela de uma locomotiva.

O Cabaré de Striptease é o único sítio em Maputo, onde se pode comprar sexo a crédito. A "gasosa" é barata, o tabaco também e só há três prostitutas para trinta fregueses. A "água podre", a que chamam "gasosa", é feita com pilhas e comprimidos. Os bêbados daquilo têm os dias contados nos dedos duma mão. Já não é notícia ver bêbados a tossir o fígado em pequenas gotas de sangue coagulado. Se não for de fígado, morrem de sexo; isto porque, as prostitutas generosas estão sempre a perdoar-lhes as dívidas antigas, na condição de as voltarem a fazer. (É como no HIPC).

Tem o mesmo cheiro, a cela e o cabaré; cheiro a cadáver em posição de lutador. Porque morre-se na cela e morre-se no cabaré. Morre-se na cela, de exaustão sexo-analense ou de eutanásia por não se conseguir viver com a vergonha do rabo vandalizado. Morre-se no cabaré, de sangue espumado pela boca na explosão do fígado, fulminado pela água de pilhas e comprimidos: a "gasosa"! E morre-se nos dois, de borbulhas espumantes, meio amareladas, em consequência do sexo desleixado. Mas se me derem a escolher entre a espada da cela e a parede do cabaré, eu escolho o cabaré. Ali, pelo menos, ninguém ataca o rabo do outro a estupro e martelo.

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