A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Um bacanal na Malhangalene
Parte 1

(Celso Manhiça)

Eu nem sequer sou de bacanais. Mas quando recebi o telefonema-convite para um, na Malhangalene, aceitei. Tinha curiosidade de ver como é que funcionava um bacanal, se havia mais mulatos ou pretos ou se eram as mulheres mais devassas que os homens.

A primeira vez que ouvi falar no bacanal, era domingo à tarde. Eu estava sentado num muro a explicar ao Nandinho como se conquista uma mulher. Do nada, apareceu um mulato num "city golf" amarelo fluorescente, com jantes especiais, a tocar música muito alta. Saíu do carro sem camisa e sapato, calças de ganga desbotadas, um palmar "light" na mão direita e uma cerveja pequena na esquerda.

Eu não conhecia aquela figura. (Nem queria, muito obrigado!). Conhecia-o o Nandinho. Cresceram juntos, ou coisa assim...

Depois de se cumprimentarem em calão, o mulato sentou-se no muro. Cheirava o que cheiram os camiões de longo-curso.

Venho de um bacanal! bafejou. Depois explicou ao Nandinho em calão e palavras obscenas o que era um Bacanal. Eu depois fui fazer as minhas pesquisas e descobri que um bacanal é uma festa onde não há arroz nem caril, há homens, mulheres, música e bebidas fortes, das terras frias. Depois de dois ou três copos dessa bebida, os convidados comem-se uns aos outros. Com tanta carne, que falta faz uma perna de galinha, uma chamussa de peixe??..

Antes de pôr os pés na rua, fiquei horas a tentar escolher uma roupa que servisse para a ocasião. Mas como se vai vestido a um bacanal? Isso não vem nos livros de etiqueta. Não era melhor ir nú de uma vez? Bah, lá arranjei qualquer coisa. Nem formal, nem informal... umas calças de ganga desbotadas como as do amigo mulato do Nandinho, uma camisa fácil de tirar e...pronto! O mais importante é que a cueca fosse nova.

Quando entrei na flat, ainda pouca gente tinha chegado. A dona da casa, a tal que me fez o convite, abriu-me a porta com um sorriso demasiado grande na boca. Estavam duas moças bonitas sentadas no sofá. Eu não lhes dava mais de vinte anos. Tinham um ar inocente, como se estivessem alí numa festinha de aniversário de criança. Não consegui imaginá-las mais logo, no calor da festa. Comecei a achar que estava na festa errada, que o Bacanal era na porta ao lado.

Estava mesmo à rasca, a pensar que me tinham vendido gato por lebre, festinha de criança em vez de corpos maduros, suados de tesão.

A campaínha veio me desmentir publicamente. Adivinha quem?.. O amigo.mulato do Nandinho. (Esse mesmo!). Trazia com ele duas garrafas de whisky falsificado e uma gang de mulatas do Bagamoyo .

Olhou pra mim como se estivesse a olhar para o Gilberto Mendes , deu um passo para frente, hesitante, sem saber se me dava um beijinho ou um abraço. Acabou por me piscar o olho e fugiu para cozinha, escoltado pela frota de mulheres que trazia à reboque.

Dava pra ver, de longe, que nenhuma delas tinha calcinha. Uma, era bastante comestível. Outras duas, cafuzas, tinham vários tiros nas pernas. A que restava, uma mulata a fugir para monhé , tinha a cara em obras. Não sou racista, nem nada, mas na hora de escolher mulher para pinocar, mulata não entra! São maningue aceleradas para o meu pedal.

A campaínha trouxe mais gente. Vários tamanhos, vários sabores; trinta homens e mulheres de vários amores, com um desejo maluco de comer gente...

(FIM da Primeira Parte..)

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