Eu nem sequer sou de bacanais. Mas quando recebi o telefonema-convite para um,
na Malhangalene, aceitei. Tinha curiosidade de ver como é que funcionava
um bacanal, se havia mais mulatos ou pretos ou se eram as mulheres mais devassas
que os homens.
A primeira vez que ouvi falar no bacanal, era domingo à tarde. Eu estava
sentado num muro a explicar ao Nandinho como se conquista uma mulher. Do nada,
apareceu um mulato num "city golf" amarelo fluorescente, com jantes
especiais, a tocar música muito alta. Saíu do carro sem camisa
e sapato, calças de ganga desbotadas, um palmar "light" na
mão direita e uma cerveja pequena na esquerda.
Eu não conhecia aquela figura. (Nem queria, muito obrigado!). Conhecia-o
o Nandinho. Cresceram juntos, ou coisa assim...
Depois de se cumprimentarem em calão, o mulato sentou-se no muro. Cheirava
o que cheiram os camiões de longo-curso.
Venho de um bacanal! bafejou. Depois explicou ao Nandinho em calão
e palavras obscenas o que era um Bacanal. Eu depois fui fazer as minhas pesquisas
e descobri que um bacanal é uma festa onde não há arroz
nem caril, há homens, mulheres, música e bebidas fortes, das terras
frias. Depois de dois ou três copos dessa bebida, os convidados comem-se
uns aos outros. Com tanta carne, que falta faz uma perna de galinha, uma chamussa
de peixe??..
Antes de pôr os pés na rua, fiquei horas a tentar escolher uma
roupa que servisse para a ocasião. Mas como se vai vestido a um bacanal?
Isso não vem nos livros de etiqueta. Não era melhor ir nú
de uma vez? Bah, lá arranjei qualquer coisa. Nem formal, nem informal...
umas calças de ganga desbotadas como as do amigo mulato do Nandinho,
uma camisa fácil de tirar e...pronto! O mais importante é que
a cueca fosse nova.
Quando entrei na flat, ainda pouca gente tinha chegado. A dona da casa, a tal
que me fez o convite, abriu-me a porta com um sorriso demasiado grande na boca.
Estavam duas moças bonitas sentadas no sofá. Eu não lhes
dava mais de vinte anos. Tinham um ar inocente, como se estivessem alí
numa festinha de aniversário de criança. Não consegui imaginá-las
mais logo, no calor da festa. Comecei a achar que estava na festa errada, que
o Bacanal era na porta ao lado.
Estava mesmo à rasca, a pensar que me tinham vendido gato por lebre,
festinha de criança em vez de corpos maduros, suados de tesão.
A campaínha veio me desmentir publicamente. Adivinha quem?.. O amigo.mulato
do Nandinho. (Esse mesmo!). Trazia com ele duas garrafas de whisky falsificado
e uma gang de mulatas do Bagamoyo .
Olhou pra mim como se estivesse a olhar para o Gilberto Mendes , deu um passo
para frente, hesitante, sem saber se me dava um beijinho ou um abraço.
Acabou por me piscar o olho e fugiu para cozinha, escoltado pela frota de mulheres
que trazia à reboque.
Dava pra ver, de longe, que nenhuma delas tinha calcinha. Uma, era bastante
comestível. Outras duas, cafuzas, tinham vários tiros nas pernas.
A que restava, uma mulata a fugir para monhé , tinha a cara em obras.
Não sou racista, nem nada, mas na hora de escolher mulher para pinocar,
mulata não entra! São maningue aceleradas para o meu pedal.
A campaínha trouxe mais gente. Vários tamanhos, vários
sabores; trinta homens e mulheres de vários amores, com um desejo maluco
de comer gente...
(FIM da Primeira Parte..)