A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O Coito Infiel das Viúvas

(Celso Manhiça)

A noite estava preta, daquelas que os xiquembos gostam de se levantar das tumbas e andar por aí, a espreitar o coito infiel das viúvas. Nesse domingo muçulmano eu estava debaixo dos lençóis do morto, namorando com o abismo da viúva, ali no buraco da montanha que pariu o rato. Ela deu-me muita bebida, desses vinhos marados que vendem no "Estrela" ao preço de sexo oral na Olof Palm. É o mesmo vinho que servem no Goa. Engoli a coisa. Era a única forma de fazer vista grossa aos pneus carecas da barriguda. O que é que um homem não faz para pagar a Faculdade!...

Tenho boas memórias desse meu tempo de Gigolo. Fiz o Bacharelato, chupando maminha de viúva. Meu público-alvo era dessas viúvas com mais de quarenta que procuram jovens da década de oitenta, que tenham feito ginásio ou pratiquem desporto e que sejam bons amantes nas horas de aperto. Eu era (e sou) tudo isso! (Graças ao "Pau de Cabinda" que me ressuscitou dos mortos).

Não só viúvas. Também fui bombeiro de muitas velhas que ainda tem fogo debaixo das saias, que dormem com "putos" porque os maridos são "seis-e-meia". Mas houve um velho que me encontrou a "matar" a velha dele, desmaiou, o coitado. Nesse dia tomei a decisão mais importante da minha vida: Dedicar-me apenas às viuvinhas! Não dessas que vão com todos para esquecer o falecido, mas das que não dormem com homens há séculos por acharem que estão traindo seus entes. Essas que choram durante o coito, pedindo desculpas aos falecidos pela traição. Essas é que são mulheres, quase virgens... A "amiga íntima" fechadinha...

São essas viuvinhas que, quando me ligam hoje e eu digo-lhes que já deixei essa vida, choram desamparadas ao telefone, enviuvando pela segunda vez. É por essas e por outras que eu digo que fui um bom "Call-boy", discreto e atencioso, pensando só no deleite das senhoras.

Conheci Macaneta e Pequenos-Libombos na boleia de uma viúva fresca que ía lá tentar esquecer o falecido. Fui bastante utilizado por essa titia. Pagava-me à hora e por isso achava-se no direito de me espremer o saquinho até à última gota de sémen, para encher o tamborinho dela. Com o dinheiro que ganhei dessa vez, paguei um semestre inteiro da Faculdade. Mas voltei desse "Safari" seco e aleijado. Andei uma semana a fazer curativos com tintura violeta, ligaduras enroladas ao "Tito" e iogurte para repor o stock.

Não era só pelo dinheiro. Também fui com elas pelo prazer. Uma senhora gorda do mercado do peixe, vendedora de lulas, nem sei onde é que apanhou meu número. Era uma titia daquelas que põem capulana sem nada em baixo, que escondem dinheiro no fundo das mamas e falam como falam os homens, batendo o peito. Queria que eu lhe fizesse em cima das lulas que ela vendia. Fiz-lhe. No fim quando ela tirou do fundo das mamas os mil paus dos meus honorários, não levei. Contou como servicinho de Responsabilidade Social. Estou a reservar o meu talhão lá no céu.

Sabes, há males que vêm por mal. E foi um desses males que me fez pendurar o saquinho. Não vou perder muito cuspo a contar como foi; só alguns detalhes: 7 de Abril, um "afterparty" no centro social da O.M.M. Quando fui a W.C. pôr o "Tito" a verter água, uma espertalhona ficou a meter pílulas na minha cerveja. "Boa noite, Cinderela". Cinco velhotas com fome de sexo comeram até raspar a panela. Fui o primeiro homem, em Moçambique, a ser violado por mulheres. Uma vergonha! Costumo imaginar os meus colegas gigolos, reunidos na associação, a rirem-se de mim.

Levei meses para me refazer do trauma; muito soro e apoio psicológico na psiquiatria do H.C.M. Nunca mais voltei a aceitar trabalhos. Se não morri dessa vez, não morro mais! Vou viver até aos setenta anos.

Não nego: Saí do negócio do sexo pela porta pequena. Mas o timing da minha reforma, acho que foi o ideal. Saí quando estava no auge da carreira. É por isso que, ainda hoje, recebo ofertas de trabalho. Fui um bom profissional. Nunca deixei o meu saquinho em mãos alheias.

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