William havia mudado . Daquele jeito extrovertido, nada sobrara.
A depressão viera, trazendo a historia de sua vida como num flashback,
e a idéia de suicídio passara a ser uma constante no dia-a-dia.
Era como se uma força invisível conduzisse a rota da insanidade.
Todos estranhavam a mudança, pois William tinha uma família com
a qual parecia viver em harmonia; nunca comentara acerca de problemas. Como
caíra nessa tentação?
Grupos de senhoras vinham orar por ele, que as recebia amavelmente. Amigos se
revezavam, no intuito de fortalecê-lo, mas ele dizia que era direito seu
partir a hora que escolhesse. Era o livre-arbítrio concedido por Deus.
Tinha suas convicções, mesmo mergulhado naquela depressão
.
A história de William, na realidade, daria um romance para quem se dispusesse
a escrever. Nascera fruto de aventura do filho do patrão com a empregada
da casa. Naquela família, era considerado um simples afilhado. Era visto
muito raramente, e o tempo foi passando, até que apareceram os cabelos
brancos.
Por que a depressão? Um dia veio a resposta. Nunca aceitara o fato de
não ter sido reconhecido pela família de origem. Segundo a mãe,
nas poucas ocasiões em que visitava a família, retornava triste,
não aceitando separar-se daquelas pessoas que eram, para ele, parte de
seu eu. Sequer tendo constituído uma família, seu espírito
se aquietara. A tristeza acumulada o corroeu a tal ponto que não deixou
que se entregasse à felicidade que ele próprio conquistou longe
dos que o desprezaram.
William está sobre a cama quando a mãe entra no quarto e, percebendo
o que acontecia, grita: "Arrependa-se, meu filho!" - De uma garrafa,
ainda com resto de substância desconhecida, vinha um forte odor tóxico
que impregnava todo o ambiente.
Levei flores e lágrimas ao enterro. Eu era parte daqueles que chegaram
na última hora e, até hoje, essa tristeza aperta meu peito e me
tira o sono.
Que Deus alivie a minha alma e me perdoe por não ter feito a parte que
a mim competia. Que um dia eu tenha paz ao lembrar dele, de seu sorriso, de
seu olhar...
Olhos que sempre transmitiram tristeza e inquietação e que, por
acomodação, víamos e fingíamos não ver.